Conceição Santos, 68 anos, anda às voltas numa paragem de autocarros, em Mem Martins, Sintra. Todos os dias, sente-se ansiosa porque nunca sabe "com o que contar". "Desde janeiro, ando à deriva. Já estive mais de duas horas à espera de um autocarro", relata a moradora que se desloca diariamente para o Cacém. "Vou cuidar da minha mãe e nunca sei a que horas vou chegar. Tenho fibromialgia e faço consultas e, às vezes, o autocarro não passa. Ando desesperada", desabafa.
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Augusta Ferreira, 63 anos, moradora em Mem Martins, apanha a carreira 1628 para o Estoril, onde trabalha, e nunca entra a horas. "Chego todos os dias atrasada, os autocarros não passam no horário previsto. Noutro dia, o das 8.30 horas não passou e tive de ir às 9.38. De manhã é muito pior, é vir para a paragem e esperar." Luísa Alves, 57 anos, conta que chega a esperar uma hora pelo autocarro que a leva à fisioterapia. "Saio mais cedo para conseguir chegar a tempo, mas não é garantia de nada. Muitas pessoas apanham Uber para não chegarem atrasadas", critica.
Em Loures, Marta Ferreira conta que chega atrasada à creche para ir buscar as filhas. "Ficamos 40 minutos à espera e há sempre muita gente nas paragens. Não tenho carta de condução e, por vezes, vou de boleia com um familiar para conseguir ir buscar as minhas filhas. Aumentaram os autocarros, mas vêm todos à mesma hora, não melhorou", lamenta. Em Sintra, o filho de Ana Gomes Costa já não vai de autocarro para a escola. "Chegava sempre atrasado. Tive de pagar uma carrinha, quatro vezes mais cara que o passe, para ele poder chegar a horas".
Despedidos por atrasos
José Mirra, segurança privado, começa a trabalhar às 6.30 horas, e raramente chega a tempo. "Uma semana, a linha 1720 falhou o horário das 5.40, e o seguinte era às 6.25. Durante três dias, cheguei meia hora atrasado. Quando entro de manhã, é um martírio", conta, acrescentando que já ouviu "queixas de pessoas que foram despedidas por causa dos atrasos". "Uma vez, um autocarro das 16.30 horas não passou, houve pessoas à espera até às 21, que acabaram por desistir", conta ainda o vigilante, que já fez nove reclamações para ser indemnizado, mas sem sucesso.
Motoristas cansados
André Teixeira, mora em Lisboa e trabalha na Amadora, e assegura que "não há um horário que não falhe". "Há uma falta de coordenação gigante e os motoristas estão cansados. Alguns dizem que já cumpriram as horas e não podem fazer mais. A Vimeca [antiga operadora] falhou sempre muito, mas estamos a ter falhas como nunca tínhamos visto", diz o professor, adiantando que "ao fim de semana é gritante". "Vou à Costa da Caparica e não há um autocarro que cumpra. Já fiquei à espera quatro horas", remata.