Cobertura já é total no concelho. Câmara investiu 250 mil euros na instalação de infraestruturas.
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Lucinda Pereira, de 71 anos, manda calar o marido, pisando-lhe o pé. José Cunha, de 72 anos, distrai-se e conversa com quem está ao lado, enquanto a mulher fala, através de videochamada, com um dos filhos emigrados em Toronto, no Canadá. A cena repete-se. José distrai-se, Lucinda volta a pisá-lo. "Está o moço a falar", avisa. Diz que não gosta que a interrompam ou façam barulho quando o filho fala, do outro lado. Todos os dias, o casal de Castanheira, Paredes de Coura, comunica, por telemóvel ou tablet, com os filhos, José Manuel e Luís, as mulheres destes ou os quatro netos.
Há cerca de um mês e meio, a comunicação, até ali incerta, por causa de falhas na rede, melhorou a olhos vistos, com a chegada da fibra ótica ao concelho. A Câmara investiu cerca de 250 mil euros no projeto, e a população, juntas de freguesia, empresas e instituições agradecem.
"Está tudo bem, Zé Manel? Agora está frio aqui. Casos [de covid-19], aqui há, mas é lá para longe, para Lisboa. Aqui à volta não há", vai relatando Lucinda. O filho, que em breve viajará para Portugal, responde: "Da maneira que as coisas estão a piorar, aqui e aí, quando for vou ter de ficar de quarentena. De certeza".
A conversa prolonga-se. Lucinda, que já pisou o pé do marido mais umas quantas vezes, explica como funciona: "Às vezes, é até acabar a bateria".
Falando com o JN, que acaba por participar na conversa, Zé Manel diz sentir as melhorias técnicas: "Não noto tantas falhas. Antes, a chamada parava mais. Atualmente, não sinto isso, e esta é a única forma de matar saudades".
Competitividade
O presidente da Câmara, Vítor Paulo Pereira, diz que o município courense "é o primeiro do país a ter cobertura total de fibra ótica". "É um investimento estratégico, porque acaba por reforçar a centralidade e a competitividade do território. Ficamos ligados ao Mundo e não podemos esquecer que a fibra vai ser o maior canal de comunicação e de difusão de bens e serviços", declara, referindo que Paredes de Coura, que há duas décadas espera uma ligação à A3 (Porto-Valença), ganha assim "uma autoestrada que anula os constrangimentos da geografia".
Sónia Silva, sócia-gerente da empresa de transportes Fisotrans, com sede em Cunha, eleva as mãos ao céu com a chegada da fibra ótica. "Vem trazer muita mudança. Para nós é uma ferramenta fundamental . Estávamos a lutar há anos para a fibra vir para cá", comenta, referindo que com a linha ADSL da PT, que utilizavam até agora, a comunicação "era muito difícil e havia quebras constantes". "Não tem conta a participação de avarias que fizemos. Chegámos a perder clientes. Foi uma batalha. Quando veio a fibra, quase abrimos uma garrafa de champanhe", desabafa.
Para o engenheiro informático holandês Mathhys de Bruin, adepto do teletrabalho e da vida saudável na natureza, a chegada da fibra a Rubiães, onde escolheu viver, foi a cereja no topo do bolo. "É muito especial esta combinação de um lugar tranquilo, mais humano e isolado, com uma ligação tão forte ao Mundo", diz.