No próximo dia 20 de janeiro, as meninas com a fogaça à cabeça voltam a sair à rua para cumprirem mais um voto ao Mártir S. Sebastião, naquela que é a tradição mais antiga da Feira, a das fogaceiras.
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Além do vestido branco e da faixa azul ou vermelha, imagem de marca das fogaceiras ao longo de séculos, nos festejos de 2023 vão, pela primeira vez, começar a usar um casaco branco de lã, padronizado, em detrimento dos diferentes modelos que cada uma das meninas optava por vestir.
Para concretizar o objetivo, a autarquia decidiu lançar o desafio à comunidade, propondo a senhoras que dominam a técnica de tricotar que confecionassem os casacos das fogaceiras.
A resposta superou as expectativas. Iniciado em novembro apenas com cinco funcionárias municipais, o projeto denominado "Ponto Fogaça" rapidamente atraiu a atenção. Hoje, são 55 voluntárias dos 31 aos 95 anos. "É um gosto muito grande e aceitei logo o desafio", afirmou, ao JN, Palmira Lima, 95 anos, que começou a tricotar em nova.
Para a bisneta
Entregue afincadamente à conclusão daquele que será o terceiro casaco por si confecionado, diz estar "muito contente" e espera com anseio ver a sua bisneta a vestir um destes casacos de lã.
À semelhança de outras tricoteiras, ressalva que a iniciativa teve outros benefícios: "A esta hora [da noite] já estava a dormir se não fosse o tricô. Nem sinto a falta da cama", confessou.
Também Benvinda, 80 anos, se mostra agradada. "A ideia é boa e estou a gostar muito de fazer os casaquinhos. Só tenho pena de não ser possível fazer casacos para todas".
Benvinda, que tem uma destreza e velocidade única na confeção, concluiu nove casacos e "queria ver se fazia uns 20 até ao fim", disse.
O "Ponto Fogaça" chamou também a atenção de tricoteiras de outros concelhos, que não hesitaram em juntar-se ao grupo.
De Vale Cambra, Ana Maria Vide, 72 anos, está igualmente empenhada em concluir o maior número possível de casacos. "Quando soube não hesitei. Gosto de tricotar e como estou reformada faz-me bem, é uma terapia", justificou.
"É muito bom saber que o nosso trabalho pode fazer as meninas felizes e ficaram muito bonitas", concluiu.
O autarca Emídio Sousa adianta que, desta forma, o "Ponto Fogaça" será "mais uma iniciativa para desenvolver no futuro". "As tricoteiras sentem-se verdadeiramente felizes e motivadas, pois estão a ocupar o seu tempo livre de forma saudável e com um propósito muito nobre".
Não há para todos
Este ano, não será possível tricotar casacos suficientes para todas as meninas. Tarefa que deverá estar concluída na edição de 2024. O projeto dá prioridade às fogaceiras mais pequenas, mais vulneráveis ao frio, mas o objetivo é alargar a oferta, mediante o número de casacos a produzir.
Câmara dá materiais
A Câmara disponibiliza os materiais necessários à produção dos casacos (agulhas, lã, botões e molde) e a equipa coordenadora presta os esclarecimentos necessários a todas as voluntárias. Há já 55 voluntárias da Feira, Vale de Cambra, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Ovar e Aveiro e Gaia.