Campo e Sobrado querem divorciar-se. Um referendo local, previsto para o verão, pretende decidir o futuro de um casamento com apenas três anos, mas que as populações nunca viram com bons olhos.
Corpo do artigo
"São duas freguesias totalmente diferentes", sintetiza Alfredo Sousa. O presidente de Junta da União de Freguesias é, também ele, um acérrimo defensor da desagregação, que já motivou um projeto-lei apresentado em maio passado pelo PCP na Assembleia da República.
É tudo uma questão de identidade. Os de Campo dizem que nada têm a ver com os de Sobrado. Os de Sobrado dizem que nada têm a ver com os de Campo.
"Tenho vergonha de dizer que pertenço a S. Martinho de Campo", desabafa Matias Dias, 72 anos, no Largo Passal, coração de Sobrado, que debatia o polémico assunto da desagregação de freguesias com um grupo de amigos. "Não tenho dúvidas que esta freguesia ficou inferiorizada em relação à outra", sublinha, dando como exemplo o facto de Sobrado ter perdido "o único banco" que ali existia.
"Qualquer assunto que precisemos de tratar temos de nos deslocar à sucursal no centro de Valongo", reforça Luís Ferreira.
Do outro lado da "fronteira", Arménio Nogueira do Vale, primeiro presidente da Junta de Campo no pós 25 de abril, concorda com a desunião: "O poder local tem como mais-valia a proximidade do presidente com as pessoas. Ora, esta solução não o deixa nem próximo de uma nem de outra freguesia".
É o próprio Alfredo Sousa - que fez com que o PS ganhasse pela primeira a Junta em Sobrado - quem confirma que tem passado "70% a 80% do tempo"nesta freguesia, em virtude de haver algumas medidas, já implementadas em Campo, que "só agora começam a ser organizadas em Sobrado".
Mas na terra das Bugiadas e Mouriscadas há quem diga que a agregação "só serviu para agora haver taxas em tudo". "Admite-se que se tenha de pagar mais de 200 euros para um corpo ficar de um dia para o outro na capela mortuária?", questiona Matias. "Se pudesse, votava 10 vezes no referendo a favor da desagregação", sentencia.
O presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, salienta que "foi unânime entre as forças políticas que se tratou de uma agregação forçada" e, por isso, trata-se de uma "luta justa".
Até porque, "contrariamente ao defendido para avançar com a agregação, está comprovado que não houve quaisquer vantagens, nem económicas, nem de outra natureza, que justifiquem a manutenção de uma lei que se revela desajustada", diz o autarca socialista.
No terreno, as diferenças não se resumem ao facto de os residentes de Campo serem mais explosivos e os de Sobrado mais reservados e estendem-se às particularidades de cada território (ver ficha).
Os resultados do referendo, que deverá acontecer no verão, mesmo não sendo vinculativos, serão remetidos ao Parlamento. Todos esperam que a desagregação se concretize o mais rápido possível. v