A FundBox está em "conversações" com a Câmara do Porto. Quer avançar com projeto imobiliário, mas dificilmente conseguirá entregar as casas até dezembro.
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Muito dificilmente a totalidade das casas prometidas pelo fundo do Aleixo serão entregues neste ano à Câmara do Porto. A pouco mais de meio ano para o final do prazo acordado entre as duas entidades, só 52 das 154 habitações ficaram disponíveis. A FundBox, entidade gestora do Inversurb, Fundo Especial de Investimento Imobiliário criado para a operação urbanística que levou à demolição do Bairro do Aleixo, só pode apresentar projeto para os terrenos quando entregar "toda a habitação", estando neste momento "em conversações" com a Autarquia.
Contactada pelo JN, a FundBox reconhece que gostaria de avançar com o projeto imobiliário para os terrenos libertos das torres do antigo bairro ainda em 2021. Essa reurbanização previa inicialmente a construção de sete blocos de habitação de luxo, com quatro a cinco pisos, bem como de um edifício comercial de proximidade. Acontece que passaram sete anos. "Não foram apresentados os projetos de especialidade e esse projeto de loteamento está caducado. Este ano haverá também um novo PDM e há toda uma conjuntura que muda", afirmou ao JN Manuel Monteiro de Andrade, administrador-delegado da FundBox.
A edificação de habitação social em várias zonas da cidade foi um dos compromissos assumidos pelo Fundo Imobiliário criado em 2010, como contrapartida pela possibilidade de urbanizar os terrenos. Mas, até agora, apenas 52 das 154 casas foram entregues: 15 na Rua das Musas, oito na Rua de Mouzinho da Silveira e, mais recentemente, as 29 na Travessa de Salgueiros. Faltam as restantes 102 que dificilmente ficarão concluídas até dezembro: 36 na Travessa das Eirinhas e as 66 do Bairro do Leal. Em resultado deste atraso, da acelerada degradação do Aleixo, da insegurança e do crime gerado pelo tráfico de droga, os últimos moradores acabaram por ser distribuídos por diferentes bairros camarários, ao contrário do que lhes havia sido prometido.
Na presidência de Rui Rio, foram implodidas as torres 5 e 4, em 2011 e 2013. Em setembro de 2018, Rui Moreira anunciou o realojamento, no prazo de seis meses, das 270 pessoas que então viviam nas três torres do Aleixo que seriam demolidas nos meses seguintes.
Tráfico migrou
A área onde as cinco torres se encontravam é hoje um descampado com pequenos canteiros com erva e custa a acreditar que ali viveram durante décadas cerca de 1300 pessoas. O tráfico e o consumo de droga migraram para os bairros da Pasteleira Nova e de Pinheiro Torres e para os jardins do Fluvial. "Tenho muitos saudades porque tinha grandes amigos no bairro", diz Maria da Felicidade que gere com o marido a mercearia/café Casa Silvério e onde muitos dos antigos moradores ainda se deslocam vindos de longe para fazerem as suas compras.
Datas marcantes do processo
1974
O bairro foi inaugurado 12 dias antes da revolução de Abril para famílias da Ribeira/Barredo
Anos 80
Problemas de tráfico e consumo de droga intensificam-se, assim como a degradação do edificado
2011
Rui Rio opta pela demolição e a 16 de dezembro é feita a implosão da torre 5. A torre 4 tem o mesmo destino em 12 de abril de 2013
2019
Em seis meses, os últimos moradores deixaram o Aleixo. Foram espalhados por outros bairros camarários na cidade
Infância
42 crianças na creche
Será o novo grande projeto da Associação de Promoção Social O Bairro do Aleixo. A creche que será criada ao abrigo do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) vai receber 42 crianças de famílias da zona de Lordelo do Ouro. Ficará localizada junto do jardim de infância (com 22 crianças) e do ATL (55 utentes) onde funciona agora a associação, no Bairro das Condominhas.
Proposta na Câmara
O apoio financeiro será repartido pela Autarquia portuense e pela Segurança Social. A proposta de apoio será apreciada na reunião do Executivo de amanhã, cabendo à Câmara do Porto uma contribuição a rondar os 78 mil euros, ou seja 30% do custo global.