Os dois cemitérios, um de leprosos e outro de escravos, descobertos durante a construção de um parque subterrâneo em Lagos vão ser apresentados em congressos marcados para Silves, Espanha, Brasil e Argentina.
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O vasto e inesperado espólio recolhido em quatro meses de escavações - que inclui uma gafaria do século XV (hospital de leprosos), uma lixeira dos séculos XV a XVII e objectos do final do Neolítico - deverá também ser estudado em trabalhos académicos da Dryas, empresa responsável pelas escavações, em parceria com dois centros de investigação da Universidade de Coimbra.
Maria João Neves, arqueóloga da Dryas que coordenou os trabalhos levados a cabo no Parque do Anel Verde, revela ao JN que "nunca tinha sido escavada de forma sistemática uma gafaria em Portugal". Na Europa, são muito poucos os países que dispõem de colecções osteoarqueológicas de indivíduos com lepra. Em Lagos, muito recentemente, foram encontradas nada menos de duas dezenas de exemplares.
Sobre os esqueletos de escravos, quase centena e meia, a responsável explica que apresentam a particularidade de terem sido inumados numa lixeira urbana e não num cemitério, facto que, por si só, já confere "relevância mundial". No "novo mundo foram já identificados outros cemitérios de escravos, mas nunca em contexto de descarte, numa lixeira", acrescenta Maria João Neves.
Os achados ósseos, as cerâmicas, os vidros e os metais estão agora a ser alvo de limpezas, consolidação, inventariação e estudo. Depois, serão depositados nas reservas arqueológicas da Câmara.
Júlio Barroso, presidente da Câmara de Lagos, admite realizar várias exposições para mostrar o espólio. "Estamos a estudar a melhor maneira de dar a conhecer ao público os achados. Há ainda fotografias e documentos associados a esta descoberta", diz.
Segundo o autarca, existiam documentos que apontavam para a existência da gafaria. O mesmo não sucedia com os cemitérios. Contudo, foi uma surpresa constatar que algumas paredes da gafaria se mantinham. Ao JN, Barroso confidencia ainda que os arqueólogos encontraram um saco grande com moedas medievais que ainda "chocalhavam". Os achados foram descobertos numa área de três mil metros quadrados, durante a construção de um parque subterrâneo com três pisos, integrado nas obras de requalificação urbana de Lagos.