As Galerias Lumière, no Porto, devem fechar de vez em outubro do próximo ano. Os comerciantes têm vindo a assinar acordos para deixarem as lojas.
Corpo do artigo
Dos que o JN ouviu, só um - Livraria Poetria - não foi notificado. No entanto, já se reuniu com a Administração. "Foi-nos dito que podíamos ficar até outubro de 2020, mas lembraram-nos que o contrato termina em março", disse Francisco Reis, funcionário da livraria.
Em 2014, cerca de uma dúzia de comerciantes abriram novos negócios nas galerias, entre as ruas de José Falcão e das Oliveiras. Entretanto, com vários lojistas com as rendas em atraso, a empresa que gere as galerias, a Imocpcis - Empreendimentos Imobiliários SA, tem vindo a chegar a acordo para que os comerciantes deixem os espaços. Os primeiros abandonaram as lojas ainda em 2018. Ontem, foi a vez da dona de um pronto-a-vestir e acessórios entregar a chave. Na Donatela, as últimas peças foram vendidas a um euro.
Diogo Dalloz, 36 anos, é um dos que se sentem defraudados. "Escolhi este espaço, porque é das galerias mais bonitas da cidade, com um aluguer acessível. Acabei por investir na remodelação da loja, dei o meu melhor e agora tenho de sair", lamentou o designer e artesão de joias. Ao comerciante, que tem as rendas em dia, também foi proposto ficar até outubro do próximo ano. "Mas avisaram-se que as restantes lojas vão ficar com as montras tapadas com papel. Quem vai entrar num local que parece abandonado?!", desabafou Diogo, que prevê sair em janeiro. Até lá, não terá de pagar rendas.
Madalena Correia, da Tête à Croissant, e Sven Fidel, da Chess & Hats, que já aceitaram sair no início do ano e acordaram planos de pagamento das rendas em atraso, apontam o dedo à falta de investimento da Administração.
"Em 2014 foi prometido que não faltariam eventos para animar o espaço. Agora, até chove na praça da alimentação", comentou Madalena. Já Sven, que num ano e meio organizou 44 concertos gratuitos, com o intuito de atrair mais gente ao centro comercial, lamenta que "o dinheiro fale mais alto".
Chegado de férias no início da semana, Francisco Reis, funcionário da Poetria, aberta há 15 anos, "não quer acreditar" que o espaço tenha o destino das outras lojas que têm vindo a fechar. "Formalmente ainda não fomos notificados de nada. Temos as rendas em dia e conseguimos pôr a livraria num rumo muito interessante. Inclusive, aventuramo-nos no mundo editorial", referiu.
Pedido de ajuda
Porém, "sem qualquer informação por parte da Administração" sobre o que se está a passar, Francisco contou que tiveram, na sexta-feira, uma reunião com a empresa. Com "preços impraticáveis" para conseguir arranjar uma nova loja na cidade, Francisco garantiu que enviou esta semana uma carta ao presidente da Câmara, Rui Moreira, "a pedir ajuda".
Com a montra virada para a Rua das Oliveiras, Francisco ainda pensou que a livraria pudesse "ser integrada" no novo projeto pensado para o espaço. Todavia, ouviu que há intenção de "terraplenar o local para nascer mais um hotel".
O JN tentou, sem sucesso, contactar a Administração das galerias. Da Câmara do Porto também não obtivemos resposta em tempo útil.
Detalhes
Imóvel pertencia ao BPA
O edifício das Galerias Lumière pertencia ao Banco Português do Atlântico que ali instalou durante vários anos o seu maior balcão. Foi comprado anos depois por uma empresa.
Cinema aberto 19 anos
As salas do cinema Lumière abriram a 28 de setembro de 1978. A chegada dos shoppings foi a machada final das salas "A" (Auguste) e "L" (Louis) Lumière, que fecharam a 28 de setembro de 1997. No seu lugar, no piso subterrâneo, nasceu um parque de estacionamento.
Novos negócios
Em 2014, as galerias renasceram com novos negócios. As obras, a cargo de um privado, duraram sete meses.