Livraria Poetria e "Out to Lunch" vão contestar carta para desocuparem conhecidas galerias, no Porto. Donos do imóvel têm projeto para hotel, mas comerciantes querem ficar.
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Pelas contas de Francisco Reis, da livraria Poetria, os lojistas nas Galerias Lumière, no Porto, já terão sido cerca de "duas dezenas". Hoje são apenas três. Tanto a livraria, como a vizinha "Out to Lunch", um estabelecimento que vende roupa e artesanato, receberam cartas para deixarem os espaços do prazo de oito dias. Francisco Reis e o japonês Yoske, representantes das lojas, vão contestar, através dos advogados. Estão inconformados e querem permanecer no local, até porque não vislumbram alternativas. "Ao contrário do que se pode imaginar, a pandemia não baixou os preços no arrendamento dos espaços comerciais", afirmam, indignados com a incómoda situação a enfrentar.
O edifício, com uma das entradas pela Rua de José Falcão, pertence à empresa IMOCPCIS - Empreendimentos Imobiliários, do Grupo IDS, que deu entrada de um Pedido de Informação Prévia, na Câmara do Porto, para converter o imóvel num hotel. O JN contactou, ontem, o escritório de advogados que enviou a carta, mas não obteve resposta. No caso da Poetria, o prazo dado para deixar as galerias termina amanhã. Quanto à outra loja resistente, a "Tâmaras", de doçaria, Mariana, a arrendatária, fala na "existência de um contrato" e diz não ter recebido qualquer carta para sair.
Via judiciaL à vista
Na missiva recebida pela Poetria, os argumentos utilizados são o "termo do período contratual" e a "ocupação ilegal", que justificarão a "desocupação coerciva". É referido que "findo os oito dias", os proprietários "agirão judicialmente, a fim de exigir a entrega da loja livre e desocupada".
Para Francisco Reis, estes desenvolvimentos soam quase ao ruir de um projeto. A livraria faz parte das galerias desde 2003. É um espaço único a nível nacional, pela particularidade de se dedicar à poesia e ao teatro. "É muito acarinhado pelos leitores. Vêm cá para nos dar força, pois sabem da situação que atravessamos, e às vezes sinto que fazem compras como forma de incentivo", salienta, garantindo que não deixará o Lumière amanhã. A Poetria vai defender-se juridicamente e confia que, "pelo menos, até junho", estará protegida, para compensar o "tempo de fecho devido à pandemia".
O vizinho Yoske lamenta o que está a suceder. Estava convencido que o aluguer renovaria automaticamente. "Sempre paguei as rendas e agora que desconfinamos recebo esta carta. A loja tem uma história e não queremos sair", reforça o japonês.
DETALHES
Apoio da Câmara
A Câmara do Porto estará a par do caso da Poetria, por ser um espaço único. Houve contactos antes do começo da pandemia e a livraria aguarda que a Autarquia possa colaborar para ser encontrada uma solução.
Florista partiu
Com loja virada para a Rua das Oliveiras havia uma florista. Era outra das resistentes nas galerias. Saiu no mês passado, com uma indemnização.
Fecho em Lisboa
Yoske, da "Out to Lunch", tinha outra loja em Lisboa. Mas fechou em novembro. A pandemia e os confinamentos tornaram a abertura incomportável.