Depois do parecer desfavorável da Câmara do Porto, dono do imóvel segue recomendações da Autarquia e apresenta segunda versão.
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Há um novo projeto para transformar as Galerias Lumière, no Porto, num hotel. Na primeira versão, o dono do imóvel recebeu parecer desfavorável da Autarquia portuense, que condicionou a aprovação ao cumprimento de determinados requisitos, designadamente a manutenção da galeria no piso térreo e do atravessamento pedonal. O JN sabe que a segunda versão deu entrada nos serviços do Município e que o processo está em análise. Enquanto isto, os lojistas, que com o passar do tempo são cada vez menos, vivem na incerteza e sem informações quanto ao futuro.
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Nuno Rosário, da loja Cassio, com entrada pela Rua de José Falcão, teve o último contacto com a Imocpcis, antiga proprietária do edifício, há cerca de 15 dias e da reunião não surtiu qualquer resultado. "Nós queremos continuar. As Galerias Lumière são uma referência para a cidade e para os nossos clientes. Este espaço devia merecer todos os cuidados", adverte, salientando que a indefinição provoca "desmotivação" e "põe em causa investimentos e postos de trabalho".
O JN entrou em contacto com a empresa IDS, que terá em mãos o negócio e sucedeu à Imocpcis, mas não obteve respostas.
Cinco resistentes
Na lista dos resistentes constam cinco estabelecimentos. Além da Cassio, estão a funcionar uma florista, um espaço de restauração (Tâmaras), um pronto-a-vestir e a emblemática livraria de poesia e teatro, Poetria, que é única do género no país. As reuniões têm acontecido em separado. Quem dirige a Tâmaras diz "não ter sido notificada oficialmente" e que "está sem receber indicações".
No caso da Poetria, o despejo está aprazado para março do próximo ano. A carta chegou em dezembro último. Tal como na Cassio, também na livraria o que houver a tratar já envolverá advogados. Os responsáveis da Poetria tentam manter a atividade normal, mas o manto da incerteza é perturbador.
"Choca-nos a insensibilidade", realça Francisco Reis, funcionário da livraria (ler texto ao lado), desgostoso quanto à forma como os lojistas têm sido tratados.
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Francisco Reis fala pelo estabelecimento onde trabalha e que tem características únicas. Pela centralidade e os anos de atividade, o objetivo é permanecer nas Galerias Lumière. Todos sabem que as alternativas são difíceis de encontrar e que os preços das rendas são proibitivos. Além do mais, há quem critique o excesso de unidades hoteleiras. A zona envolvente das galerias é exemplo desse "boom" turístico (ver infografia).
Importa notar que o projeto para adaptar o edifício a um hotel teve parecer favorável da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN). "A intervenção proposta permite requalificar a imagem exterior do prédio e é por isso positiva para a relação com o imóvel classificado [Depósito de Materiais da Fábrica das Devesas, mesmo ao lado], que se pretende salvaguardar", justificou a DRCN.
"Cenário de saída é catastrófico"
"Trabalhamos aqui há 17 anos e queremos continuar. Fazemos eventos com o Teatro Carlos Alberto, o Palacete dos Viscondes de Balsemão e a Reitoria. O cenário de uma eventual saída é catastrófico", diz Francisco Reis. "Vivemos na incerteza e sabemos que a especulação imobiliária está a atingir valores absurdos. Uma das coisas que nos choca é a insensibilidade. Mas acredito que a Autarquia está atenta e vai colocar um travão", acrescentou.