A canção "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso, marcou o "pontapé de saída" da manifestação cultural contra as medidas de austeridade em Beja, que, a meio da tarde, contava com a adesão de cerca de 200 pessoas.
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A manifestação, integrada no apelo "Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!", feito através das redes sociais, começou às 15.45 horas, quando, na Praça da República, começou a ouvir-se a canção de Zeca Afonso que o Movimento das Forças Armadas (MFA) escolheu para ser a segunda senha de sinalização da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974.
Com o lema "A cultura junta-se à resistência", a manifestação, que a meio da tarde reunia cerca de 200 pessoas, como constatou a Lusa no local, decorre até hoje à noite, com um cartaz que inclui 35 atuações de artistas da região de Beja.
Concertos, performances de teatro, sessões de poesia e de contos e pintura ao vivo são formas de arte que marcam o cartaz da manifestação cultural e "materializam o espírito de insubmissão que se sente em todo o país", segundo a organização.
As bandas Virgem Suta, Balão Dirigível, Adiafa e Cantigas do Baú, o músico Paulo Ribeiro e as companhias de teatro Baal 17, Lendias D'Encantar e Arte Pública são alguns dos nomes responsáveis pelas 35 atuações do cartaz em Beja.
"Mais do que músico, estou aqui como cidadão preocupado com a situação do país", disse à Lusa Paulo Ribeiro, de 41 anos, referindo que "qualquer manifestação artística também é uma forma de intervir socialmente e de mostrar indignação e revolta perante o atual estado de coisas" e, por isso, "ninguém, nem os artistas, pode ficar impávido e sereno".
"As dificuldades que o país e a população atravessam são de tal maneira graves que todos devemos contribuir para tentar alterar a situação", disse à Lusa o ator António Revez, da Companhia Lendias D'Encantar, que hoje irá ler poemas, como "As Facas", de Manuel Alegre, "um poema que fala de amor e de sangue".
Atualmente, "o momento é de amor e de sangue. Amor por Portugal e pela população, que trabalha para que o país se desenvolva. E, se for necessário, temos que colocar o nosso sangue ao serviço do futuro da população", defendeu o ator.
"É com muita tristeza que chego aos 40 anos e vejo que o meu país chegou a este estado e que tenho uma filha com 14 anos e não consigo encontrar uma réstia de esperança para o futuro dela", disse António Revez.
Ao contrário do previsto e anunciado em redes sociais, em Évora, também no Alentejo, não foi realizada hoje qualquer manifestação de protesto.
Durante a tarde, a Praça do Giraldo, considerada a "sala de visitas" da cidade e para onde estava prevista uma manifestação, apenas tinha as esplanadas meio cheias e contava com a passagem de alguns grupos de turistas.
No entanto, algumas pessoas dirigiram-se, durante a tarde, ao centro da cidade para integrar a manifestação cultural anunciada, demonstrando, depois, estranheza pela ausência de qualquer iniciativa.
Artistas portugueses saíram à rua em várias cidades do país para protestar contra as medidas de austeridade, numa manifestação cultural que se associa ao apelo "Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!".