No último ano, foram muitos os estudantes estrangeiros que chegaram com as famílias para viver e estudar em Portugal.
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Quando Antónia Rose veio de malas e bagagens do Brasil para Portugal, com o filho Lorenzo, estava longe de imaginar que acabaria em S. João da Madeira. Foi parar à cidade por acaso, e ficou. Lorenzo é um dos 82 alunos estrangeiros que, desde o ano passado, entraram nas escolas do concelho. A maioria chega do Brasil e da Venezuela, à procura de qualidade de vida, mas também os há de França, Bolívia, Bulgária, Angola ou Cabo Verde.
Parece não haver uma fórmula para explicar o "boom" recente de alunos estrangeiros nas escolas da cidade. Do pré-escolar ao Secundário, são dezenas, alguns nem sequer falam português e estão a aprender. Não é o caso do italiano Lorenzo Ghinardi, de 11 anos, filho da brasileira Antónia e de pai italiano, que já faleceu.
"Vivemos em Itália até 2015 e quando o meu marido faleceu, decidi voltar ao Brasil, para perto da minha família", conta Antónia, que não se adaptou ao clima de insegurança e violência. Regressou assim à Europa, com Lorenzo, desta vez para Portugal, onde tinha uma amiga.
Portugueses são gentis
"Estudámos a cultura antes de virmos. É um dos países mais seguros do Mundo", diz. Pensou em Coimbra ou no Algarve, mas acabou no Norte. "Caí aqui de pára-quedas. Conheci uma pessoa no consulado, no Porto, que me disse que tinha uma casa mobilada em S. João da Madeira. Era o ideal, viemos e apaixonamo-nos".
Vivem na principal avenida da cidade, a Renato Araújo. Chegaram em fevereiro do ano passado e Lorenzo já fez cá o 4.º ano. "No início, foi difícil, mesmo sabendo falar português... Não conhecia ninguém. Agora, tenho muitos amigos", diz ele. E adora a escola. "É menos rígida do que em Itália e os professores são fixes. Gosto de Ciências, História e Português". Terminou agora o 5.º ano na Escola Oliveira Júnior e quer continuar por cá. "Quando vieram alunos italianos de intercâmbio à escola, fui eu que os recebi", conta. "O Lorenzo adaptou-se tão bem, que prefere Portugal ao Brasil ou Itália. Os portugueses são muito gentis e inserimo-nos muito bem", diz a mãe.
Sarah Inês chegou mais pequenina do que Lorenzo. Tem cinco anos e veio da Venezuela com a mãe venezuelana e o pai, filho de emigrantes portugueses. Israel Resende nunca cá tinha vivido, mas viu-se obrigado a vir pela segurança da filha. A mulher, Vanessa Herrera, teve aulas de português, é a única que ainda não tem nacionalidade. "A nossa primeira opção foi S. João da Madeira, porque tinha a casa dos meus pais", explica Israel.
Sarah quer ser bailarina e entrou no Jardim de Infância dos Ribeiros. Em setembro vai para o 1.º ciclo, e já anda a praticar as letras. "Foi fácil fazer amigos e aprender a língua. Gosto muito de estar cá", afirmou. A família, entretanto, cresceu. Nasceu cá o pequeno Israel. Agora, só falta Vanessa conseguir equivalência do seu diploma de farmacêutica, porque vieram para ficar.
Ficha
Evento na Câmara
Depois de se aperceber do grande volume de alunos estrangeiros a chegar à cidade, a Autarquia promoveu um evento, no Dia de Portugal, 10 de junho, para dar as boas-vindas aos estudantes.
Há três agrupamentos
A cidade conta três agrupamentos, cada um deles com uma escola secundária. Ao todo, há 15 escolas.
Famílias refugiadas
Entre os estudantes estrangeiros, estão jovens de famílias refugiadas. Duas famílias da Síria foram acolhidas pela Câmara Municipal e uma família do Sudão foi acolhida pela Delegação da Cruz Vermelha.