Super Bock Arena acolhe quinta-feira Jump Around, espetáculo que celebra a cultura do hip hop com nomes como Mundo Segundo, Sam The Kid ou Mr. Dheo.
Corpo do artigo
Vai ser ainda com máscara e limitações, mas o hip hop desconfina de vez com Jump Around, evento que retira o seu título do célebre tema dos House of Pain e que se apresenta como celebração de uma cultura que atingiu expressão global no final dos anos 1980. As suas quatro vertentes - rap, graffiti, breakdance e djing - vão combinar-se num espetáculo de mais de três horas onde atuam nomes centrais do género em Portugal.
Das rimas e batidas de Mundo Segundo & Sam The Kid, Kappa Jotta e Phoenix RDC aos pratos de DJ Ride e DJ Fifty, passando pelos movimentos do Bboy AIAM e o seu coletivo Freestylerz, além da pintura ao vivo do "writer" Mr. Dheo, a "função" - para recuperar um termo do século XIX que designava sessões teatrais combinadas, entre o drama ou a comédia e os interlúdios musicais - terá como anfitriã Eva Rap Diva, que irá "liderar os comandos e ajudar a moderar os ânimos, devendo-lhe todos os artistas respeito ao longo de evento", conforme se lê na nota para a Imprensa.
Responsáveis pelo último ato de Jump Around, que cumpre este ano a 2.ª edição, depois de ter passado por Guimarães, em 2019, Mundo Segundo & Sam The Kid, duas eminências do hip hop nacional, irão desvelar alguns dos temas que têm criado em conjunto, além do repertório próprio de cada um que se estende até ao final dos anos 1990.
Mr. Dheo leiloa obra
"Tem uma enorme importância, neste contexto, reunir os quatro pilares do hip hop, tornar acessíveis elementos como a street art e o breakdance. No fundo, é transportar a rua para o interior de um recinto", diz Mundo Segundo, um dos fundadores dos Dealema. A sua atuação com Sam The Kid contará ainda com um convidado surpresa, que o rapper resistiu a revelar na conversa com o JN, mas que é um "grande nome do hip hop internacional, ligado à cena de Los Angeles", fica a pista. Sobre o seu trabalho com o lisboeta, que deu já origem a vários singles, Mundo Segundo afirma que esta cadência, "música a música", irá "culminar em disco novo" ainda sem data de lançamento prevista.
A figura mais omnipresente em Jump Around, além de Eva Rap Diva, será Mr. Dheo, que irá pintar numa estrutura amovível durante as três horas do show. No final, a obra será leiloada e o seu valor reverte a favor de instituições de apoio a jovens em risco. "É o regresso às origens do hip hop", diz o "writer". "É uma cultura que se desintegrou nos últimos anos. A música conquistou quase todo o protagonismo e o grafíti nem sempre aparece ligado ao rap". E será necessariamente má essa desintegração? "É um processo natural", diz Mr. Dheo, que encontra vantagens: "A street art emancipou-se a ganhou um estatuto autónomo. Os diferentes ramos do hip hop começaram a seguir caminhos diferentes, mas este evento vai-nos relembrar como tudo começou".
O artista urbano, que deixou a sua marca em mais de 40 países e obteve três recordes no Guinness com trabalhos faraónicos realizados em coletivo nos Emirados Árabes ("trabalhos que depois desapareceram, tudo um show off de novos ricos"), salienta ainda a importância do "regresso da cultura e da criatividade, depois de tempos brutais".