"Estou com medo, doente, perdi o emprego e não tenho dinheiro para a medicação, por favor encontrem uma solução permanente de alojamento", pediu Khalied, na Assembleia Municipal do Porto desta terça-feira à noite. Natural do Bangladesh, é um dos 15 desalojados do prédio que ruiu na Rua de 31 de Janeiro, no centro da cidade.
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Khalied falou no período destinado ao público, que começou com Helena Souto, da organização Habitação Hoje, e cuja intervenção foi interrompida por ordem de Sebastião Feyo de Azevedo, que preside aos trabalhos. Raúl Almeida, do movimento afeto ao presidente da Câmara, manifestou o seu "protesto" por discordar do modo como estava a ser criticado Rui Moreira (ausente da assembleia) e também foi essa a razão que levou Sebastião Feyo de Azevedo a cortar a palavra a Helena Souto. O momento gerou burburinho nas bancadas.
A seguir, destroçado, Khalied revelou que sofre de "epilepsia" e que o desabamento agravou o problema de saúde. Disse que, na noite do dia do incidente, quinta-feira passada, dormiu num "supermercado", com o colega Mollik.
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Mollik falou de seguida, confirmando ter dormido num supermercado. Sofreu ferimentos devido ao aluimento do edifício e foi ao hospital. Agradeceu a quem o retirou do interior do prédio, nomeadamente à Polícia, e à assistência hospitalar. Deixou um alerta acerca das "condições de segurança" do edificado, para que situações destas não se voltem a repetir, e pediu "tempo" para retomar a sua vida.
Tanto Mollik, como Khalied, disseram que não foram contactados por qualquer entidade, para além da organização Habitação Hoje, que tem acompanhado este caso destes imigrantes, todos do Bangladesh e que ficaram sem casa.
Empreiteiro pode ter muitos problemas
Criticada pelo Bloco de Esquerda, a Câmara do Porto fez a sua defesa através do vice-presidente, Filipe Araújo, que substituiu o ausente Rui Moreira. Susana Constante Pereira, do BE, acusou a Câmara de "ter esperado até esta terça-feira para acionar os mecanismos administrativos" e considerou que "o município tem de ser mais proativo".
Filipe Araújo não gostou do que ouviu. "É mentira! A Câmara do Porto não esperou por nada. Acionou os meios que tem ao seu alcance. Acionou a Linha de Emergência, que é temporária e pode ir até três meses", respondeu. "O aproveitamento político deste caso é indecoroso", comentou.
Ao contrário do que é defendido pelo BE, e também pela Habitação Hoje, o vice-presidente considerou que o realojamento "é uma obrigação da Segurança Social" e não da Câmara.
Mesmo assim, confirmou que os processos de três desalojados estão ao cuidado dos Serviços de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS) do Porto. "Estão a trabalhar para garantir alojamento e condições de vida", adiantou.
Ainda na resposta à oposição, afirmou que a "obra" no prédio ao lado do que ruiu "está licenciada". Acrescentou que "o empreiteiro da obra, as seguradoras e a PSP estão a aferir o que aconteceu". Concluiu que "se o resultado da investigação for desfavorável ao empreiteiro, ele terá muitos problemas para enfrentar".
Ainda não há relatório do LNEC
Questionado por Rui Sá, da CDU, acerca do relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), sobre a enxurrada de janeiro, que afetou o Centro Histórico da cidade, Filipe Araújo informou que "ainda não há relatório" e que se "aguardam as conclusões". Também disse que o que for apurado servirá de lição para o futuro.
Quanto à ligação fluvial entre a Afurada, em Gaia, e o Cais do Ouro, no Porto, que deixou de funcionar há uns anos, o vice-presidente afirmou que essa "é uma competência da Área Metropolitana do Porto" e que, "até ao momento, a transferência dessa competência para os municípios do Porto e de Gaia não se efetuou". Assinalou que "terá de ser feito um estudo", antes de retomar a ligação entre as duas margens.
Rui Sá levantou outra questão relativa ao custo dos projetos da travessia rodoviária sobre o rio Douro, que foi assumida pelas autarquias do Porto e de Gaia, mas ficou sem resposta.
A terminar a Assembleia Municipal, duas moradoras queixaram-se do barulho e da perturbação da movida portuense, argumentando que o novo regulamento não estará a ser cumprido.