A exposição sobre a "Mineração Romana em Valongo", patente no museu municipal, tem mais um motivo para ser visitada. Para além de mostrar algumas das facetas do Império Romano e das marcas deixadas no concelho, a partir de agora conta com uma oficina e uma réplica de uma máquina de mineração de ouro.
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"Esta exposição vai-nos mostrar uma das facetas do Império Romano que foi a razão que os trouxe cá, ou seja, o ouro. As nossas serras têm ouro e ao estarem cá para as explorar deixaram-nos ficar vestígios materiais, que são os fojos, longas cavidades de centenas de metros e até de quilómetros, que aqui pretendemos retratar, dando a conhecer as formas de explorar esse minério", explica Paula Machado, museóloga da Câmara Municipal de Valongo, anotando que apesar de ainda existirem alguns vestígios nos dias de hoje, não vale ir para as serras de Valongo procurar, pois "se na era romana a concentração já era baixa", agora seria menor ainda.
"Fala-se de duas a cinco gramas de material recolhido, provavelmente hoje será ainda menor. Pensando bem, é muito mais importante o património que nos deixaram do que andar à procura de umas pintinhas de ouro. Além disso, as minas hoje são habitat de espécies protegidas e a serra é um local de fruição em termos ambientais e de desportos de natureza", acrescenta.
Para a responsável pela exposição mais importante do que a mineração foi o que os romanos trouxeram com eles e deixaram ficar. "Ficou uma maneira de estar na vida, de comer, de conviver, de entendermos o mundo enquanto um local civilizado, com base numa legislação que seria aplicada mais ou menos a todos os cidadãos e, no fundo, o entorno romano", refere Paula Machado, avançando: "Mais do que isso, foi a tecnologia que deixaram e, por isso, criámos de raiz, com a ajuda de um artesão, uma máquina de minerar, ou seja, de partir a pedra, usando a forma motriz da água, que era também usada pelos romanos. Fizemos foi um três em um: o poço, o parafuso de Arquimedes e a movimentação dos pilões para a fragmentar".
No sentido de se entender melhor a importância do novo elemento da exposição, no dia da inauguração da oficina romana, foi feita uma recriação histórica do dia a dia daquela época, bem como de todo o processo, desde a mineração no fojo, à trituração da pedra para extrair o ouro, seguindo-se a fundição do mineral até à forja de uma moeda romana. "A maioria das pessoas que dizem que não gostam de história é porque nunca perceberam o quão fascinante é. Por isso temos figurantes vestidos à época romana, quer da área militar, quer da civil, e uma águia, que não poderia faltar pois é o símbolo do Império Romano. Tudo isso ajuda as pessoas a entrarem no espírito e a perceberem a base da nossa civilização. E esta proximidade cria empatia", justifica a responsável pelo museu, continuando: "O que pretendemos é que conheçam o que é nosso, não lendo, mas vendo e participando".
Segundo Paula Machado o património imaterial deixado pelos romanos é ainda visível nos dias de hoje. "Falamos português que vem do latim, a própria numeração romano, que foi usada durante séculos. Tudo isso faz parte do património imaterial que nós nem temos noção que usamos todos os dias. Eles levaram ouro, mas deixaram-nos ficar civilização. Ao cruzarem-se com os povos autóctones, miscigenaram-se e criaram aquilo que nós somos hoje, portanto, abertos ao Mundo, à mudança, à transformação", complementa a museóloga.
A exposição, que estará patente ao público até ao próximo dia 31 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17.30 horas, ou sob marcação para visitas guiadas, está dividida por três espaços: no rés do chão estão expostos alguns dos artefactos e vestígios deixados pelos romanos no concelho de Valongo e a expansão do Império até à Península Ibérica; no 1.º andar os visitantes entram no mundo da mineração, através de um documentário com a explicação geológica da origem do ouro, as diferentes formas de exploração e uma instalação inspirado no Fojo das Pombas, que tenta simular o ambiente rochoso, húmido e pouco iluminado, que reflete as condições de trabalho dos mineiros da época; e, por último, a oficina romana, inaugurada na passada terça-feira, com a máquina de mineração criada pelo artesão e recriador histórico Francisco Esteves.
"Os romanos tinham máquinas como esta. Como é hidráulica necessitava de um rio, mas como não temos aqui, surgiu-nos a ideia de levar a água à máquina através do parafuso de Arquimedes, ao chegar acima a outro tanque abre-se uma válvula que a faz cair da roda principal e mover os pilões para triturar a pedra. Passa-se depois para a fase de moagem para pulverizar a pedra ainda mais para se retirar as partículas de ouro aí contidas. Depois disso bateamos com a água, pois o ouro é mais pesado e o lixo é mais leve e sai todo e no final ficamos só com ouro na bateia. Para ser transportado para Roma pelas escoltas de legionários, o ouro era antes derretido e pesado", explica o artesão, completando: "Naquela época só havia duas formas de partir a pedra para extrair o ouro: ou através de uma máquina destas ou à mão com um martelo. Esta máquina facilitava o trabalho e libertava mais mineiros para poderem extrair pedra dos fojos".