Está dominado e entrou em fase de resolução o incêndio de Castelo Branco, que deflagrou sexta-feira, dia 4 de agosto, pelas 15H09 em Carrascal, freguesia de Sarzedas, concelho de Castelo Branco e que alastrou ao município vizinho de Proença-a-Nova, onde causou maior preocupação.
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A preocupação dos operacionais neste segundo dia de combate era evitar reativações que tivessem um período de extinção superior a 15 minutos e “a estratégia definida surtiu efeito”.
José Guilherme, segundo comandante regional de Emergência e Proteção Civil do Alentejo, na função de comandante de operações de socorro (COS) no teatro de operações, tinha identificado os quatro pontos quentes na conferência de imprensa da manhã, nomeadamente entre Pedra do Altar e Foz do Cobrão, a oeste de Gaviãozinho, a este de Carregais e entre a Catraia e Aldeia Cimeira.
Apesar das altas temperaturas e da condição do vento, o dia evolui favoravelmente e os operacionais contiveram o perímetro de incêndio e os pontos quentes. Um combate sempre desigual, porque “quando temos incêndios subterrâneos, com as raízes a arder por baixo da terra, nunca se sabe quando vai haver uma reativação, por isso a importância desta monitorização”.
Segue-se o trabalho de rescaldo e consolidação da área ardida, “o que vai durar alguns dias, porque é uma área muito extensa, estamos a falar de 60 quilómetros, mas muito irregular”.
As populações destes concelhos reviveram o pânico e terror de 2003, trazendo a lume o que falta para evitar essa reincidência cíclica de incêndios tão devastadores. “Se calhar falta mudar o paradigma ou a mentalidade da nossa população”, afirma o comandante José Guilherme, explicando que “os nossos antepassados ocupavam as terras, cultivavam as hortas e só com isso praticamente tínhamos as faixas de gestão à volta dos aglomerados populacionais garantidas”. Apanhavam a lenha, a pinha para o inverno.
Houve algum abandono, os tempos também são outros, mas não nos podemos esquecer que a floresta não começa a arder sozinha. Se tivermos a floresta, a meteorologia e uma fonte de ignição, é lógico que as variáveis todas (abandono da terra, falta de ordenamento, falta de limpeza de terrenos, falta de gestão de combustíveis), tudo entra na equação complicada que é depois resolver o incêndio”, reiterando que falta “sensibilizar a sociedade para a gestão de combustíveis, para a limpeza e em saber lidar com o fogo, como os nossos antepassados sabiam. O cidadão é o primeiro elo na cadeia. Se à medida que vamos subindo na cadeia os elos vão falhando é quem está no fim da linha que tem de resolver o problema”. Isto tendo em conta “o principal objetivo que é preservar as vidas humanas”.
Registaram-se nestes dias 11 feridos, todos leves, tendo cinco sido assistidos no local, todos bombeiros, e os restantes em meio hospitalar (quatro bombeiros, um civil e um militar da GNR), por “exaustão, entorses e inalação de fumos”. Cerca de uma centena de pessoas chegou a ser retirada das habitações por precaução.
Os mais de mil operacionais, apoiados por mais de 350 viaturas e 16 máquinas de rasto, que se mantiveram no teatro de operações conseguiram manter a estabilização do perímetro de incêndio que alcançou 60 quilómetros, “uma área muito grande que tem pelo meio muitas povoações dispersas, muitas aldeias, muitos lugares e isso foi um constrangimento para os operacionais”.
Entre estes mais de mil estavam 834 bombeiros, 52 da GNR/Unidade Especial de Proteção e Socorro, 46 do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, 45 da Força Especial de Proteção Civil, 35 das Forças Armadas, sete da Cruz Vermelha Portuguesa e cinco do INEM, além dos elementos da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Serviços Municipais de Proteção civil e Gabinetes Técnicos Florestais.
O facto de ter sido mantido como “ativo” ao longo deste segundo dia de combate, “permitiu que se mantivesse todo o efetivo uma parelha de aviões a fazer monitorização armada (vigilância com carga de água para descarregar sempre que necessário e volta a carregar) para fazer face a alguma reativação mais forte, no âmbito deste incêndio que consumiu sete mil hectares, apesar do potencial ser muito maior”.
Para esta fase de consolidação que agora se segue, o Exército anunciou hoje o reforço do dispositivo presente no teatro de operações de Castelo Branco com dois Pelotões de Rescaldo e Vigilância pós Incêndio e dois Módulos de Alimentação. “No seguimento do empenhamento dos Destacamentos de Engenharia da Brigada Mecanizado e do Regimento de Engenharia N.º 1, o Exército incrementa o dispositivo de apoio ao combate dos fogos rurais com 10 viaturas e mais de meia centena de militares”, avança.