José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo, faz o balanço de um ano na liderança da Associação das Serras do Porto, entidade que une os três concelhos.
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Criada oficialmente há cinco anos, a Associação de Municípios Parque das Serras do Porto une os concelhos de Gondomar, Paredes e Valongo num esforço de valorização de um território com 60 quilómetros quadrados. Com presidência rotativa, no último ano a instituição teve a liderança de José Manuel Ribeiro. Na hora de passar o testemunho ao homólogo de Gondomar, Marco Martins, o presidente da Câmara de Valongo destaca o muito trabalho que tem sido feito e que por vezes passa despercebido. Da produção intensiva de conhecimento, com muitos estudos, à criação de estruturas de lazer até ao envolvimento da população em muitas iniciativas. E revela um sonho que acalenta: comprar as serras.
O que destaca da atividade da associação neste último ano?
Apresentamos um estudo das sensibilidades visuais, uma ferramenta muito importante de análise transversal para todo o território. Somos confrontados com vários pedidos de pareceres e tem de haver coerência na forma como as câmaras decidem. Promovemos, também, um estudo sobre invertebrados. Decidimos continuar com um estudo sobre as aves e fazer a atualização do plano de gestão do Parque das Serras do Porto. Nas intervenções no terreno estamos a concluir o projeto de valorização e adaptação dos rios Ferreira e Sousa às alterações climáticas. E estamos a finalizar a implementação da rede de percursos pedestres, que inclui uma grande rota com 59 quilómetros e 17 pequenas rotas. É um somatório de trilhos que atinge os 240 quilómetros. Estamos ainda na fase final do projeto de gestão ativa de áreas ocupadas por espécies invasoras, que abrange 160 hectares. E há uma aposta muito grande na plantação de floresta. Vão ser plantados quase 3000 sobreiros numa área de eucaliptos. E outros 15 hectares receberão 10 000 árvores e arbustos nativos.
Uma das críticas que se faz, precisamente, é a abundância de eucaliptos...
O território é quase todo privado. Aliás, e o que vou dizer agora só me responsabiliza a mim, gostava que houvesse um programa, talvez o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], que nos ajudasse a comprar as seis serras. O meu sonho é comprá-las. Só o proprietário tem o poder de decidir que tipo de coberto vai existir. Claro que era uma decisão que eu e os meus colegas iríamos tomar e só teria efeito daqui a 30 ou 40 anos. Respeito muito as produções de eucalipto, mas gostava que o coberto das nossas florestas tivesse mais biodiversidade. Se tiver um coberto com medronheiros, castanheiros, carvalhos, sobreiros, posso tornar a floresta mais resistente às alterações climáticas e aos incêndios. E há toda uma economia ligada à floresta que podemos criar. Isto é ação, não é blá-blá-blá. Claro que comprar seis serras é muito dinheiro. Nós temos uma estimativa. Por exemplo, a serra de Santa Justa, que eu gostava de comprar, que tem cerca de 800 hectares, não é toda privada, pode custar seis milhões. As seis serras, se calhar, custam 30, 40 milhões. É preciso depois também investir para retirar e replantar. Mas isto é que é verdadeiramente transformador. Daqui a 40 anos teríamos um Parque das Serras do Porto absolutamente brutal. E 40 milhões de euros no PRR é uma gota.
Os donos de terrenos vendem?
Se lhes derem o valor justo, vendem. O privado faz os contratos de exploração para plantação porque prefere ter algum rendimento do que ser dono de um terreno mas sem dinheiro para o limpar, como é obrigatório por lei. Estou a falar de mudanças absolutamente disruptivas, não de coisinhas pequeninas.
Já foi feita alguma abordagem ao Governo nesse sentido?
Já falámos, perguntámos. É muito dinheiro, como é óbvio, mas seria marcante. Isto é que são os legados para as gerações futuras, sem estarmos preocupados com o corta-fitas. Isso ficaria para daqui a 40 anos. É caro? É. Mas quanto vamos pagar por não ter uma floresta adaptada às alterações climáticas e mais resistente aos fogos?
A implantação de centrais fotovoltaicas ou torres eólicas é exequível?
Estamos a ser muito confrontados com pareceres para projetos de exploração de recursos energéticos, parques fotovoltaicos e eólicos. Tem que ser analisado. Não me choca que possam existir em alguns locais, mas noutros não.
E o pedido para exploração mineira nas Banjas?
Eu não sou favorável. Considero que os impactos são mais negativos do que positivos. Mas estas coisas têm de ser estudadas. Têm de ser objeto de consultas públicas, muito debate e aprofundamento. Mas eu não sou favorável.
Um dos grandes problemas das serras é a deposição de entulho.
Tem a ver com a falta de civismo, mas também com questões económicas. Muitas vezes, as pessoas preferem colocar no monte do que pagar para depositar aqueles resíduos [de construção]. E sabem que a fiscalização é difícil. Teríamos de ter um exército de pessoas a fazer a vigilância permanente a uma área com 60 quilómetros quadrados.
Mas há alguma fiscalização?
Há a nossa presença, das autoridades... mas esses depósitos muitas vezes são feitos à noite. Também acredito muito no trabalho de sensibilização das pessoas. E em tornar nossos aliados aqueles que frequentam as serras.
E o projeto de sapadores florestais?
Tentámos criar uma equipa, mas não foi possível. Continua a ser uma vontade dos três municípios. Ainda assim, cada concelho tem as suas equipas.