Em pouco mais de uma hora, a habitualmente inofensiva ribeira de Valverde, em Seia, transformou-se, anteontem, numa tumultuosa corrente de lama e pedras que semeou o pânico no Bairro da Raposeira e na urbanização dos Martinhos.
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Desta primeira enxurrada, alimentada com detritos dos grandes incêndios do Verão nas encostas sobranceiras à cidade serrana, não houve feridos a registar, nem danos materiais de monta, mas ficou o alerta para o que pode vir a acontecer com as primeiras chuvadas do Outono.
Tudo se passou ao final da tarde, quando a chuva, acompanhada de trovoada, caiu com grande intensidade em Seia e engrossou o caudal do pacato curso de água, enquanto os resíduos florestais e as cinzas dos fogos desceram pela serra e entupiram o sistema de drenagem daquela zona habitacional. “Nunca assisti a uma coisa assim. Foi assustador ver como a ribeira ganhou aquela força toda em poucos minutos e veio por aí abaixo, levando tudo na frente”, conta Manuel Brito, morador do Bairro da Raposeira, cuja garagem ficou atulhada com “cerca de 40 centímetros de lama”.
Na hora do balanço, o presidente do município garante que não houve feridos e que os danos materiais registados devem-se a inundações e à lama que invadiu casas e garagens. Houve ainda “alguns problemas” junto a linhas de água na zona do Museu do Pão e da freguesia de Valezim, bem como a queda de uma linha de alta tensão em Vodra, já na zona baixa do concelho. “A lama também chegou ao recinto da escola secundária e à estrutura do pavilhão gimnodesportivo, situação que só tivemos conhecimento esta manhã [ontem] por não haver ninguém no local aquando da enxurrada”, explica Carlos Filipe Camelo. Segundo o edil, houve “uma boa resposta. “À meia-noite, tínhamos a zona totalmente limpa”, refere, considerando que o sucedido é “um alerta” para os problemas que se seguem aos incêndios nesta zona serrana.
“Em 2003, aconteceu a mesma situação devido ao desaparecimento de árvores e arbustos que ajudam a reter a água nos solos. Como arderam, perdeu-se essa capacidade e a água veio encosta abaixo arrastando detritos florestais”, adianta, revelando que a população foi alertada para o perigo iminente nos próximos tempos.
“Tendo em conta o passado, já tínhamos esta preocupação, mas nunca contávamos que houvesse enxurradas tão rapidamente”, afirma Carlos Filipe Camelo. Perante o que se passou na terça-feira, o presidente senense sugere que as intervenções de emergência nas áreas ardidas anunciadas pelo ministro da Agricultura – que visitou a região na segunda-feira – fossem rapidamente implementadas. “É preciso criar condições para reduzir o risco de derrocadas nas encostas íngremes do nosso concelho”, afirma.