Líder do PS/Porto acusa Carlos Brás de deslealdade por avançar como independente a Gondomar
A candidatura do ex-deputado do PS Carlos Brás à Câmara de Gondomar, como independente, surpreendeu o presidente da distrital socialista do Porto, Nuno Araújo, que disse à Lusa ser uma deslealdade ao partido do qual se serviu durante anos.
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Número 13 da lista do PS pelo círculo do Porto nas últimas eleições legislativas de 18 de maio, Carlos Brás falhou a reeleição como deputado e, 16 dias decorridos, anunciou a sua candidatura como independente a Gondomar.
No vídeo publicado na página no Facebook “Por Gondomar 2025”, renomeada depois de em 2021 ter sido a página da candidatura do ex-presidente do PS no município de Gondomar Marco Martins, o candidato independente justifica o passo “por achar que acima dos partidos estão as pessoas” e que avançou para “dar resposta aos apelos que aumentaram após a saída de Marco Martins e que são impossíveis de ignorar”.
Marco Martins assumiu a 1 de fevereiro, a tempo inteiro, a liderança da empresa Transportes Metropolitanos do Porto, passando a presidência do executivo para o até então vice-presidente e também candidato do PS à Câmara de Gondomar, Luís Filipe Araújo.
“Na política, a coerência e a lealdade contam e o que o Carlos Brás fez foi uma deslealdade ao partido do qual se serviu durante muitos anos”, afirmou Nuno Araújo.
E prosseguiu: “quando olhámos para alguém com quem estivemos a fazer campanha há poucos dias e, de um momento para o outro, constatámos que havia já um projeto municipal que não foi preparado de um dia para o outro, que havia premeditação para aquele projeto municipal (…) ficámos estupefactos”.
Insistindo que a candidatura independente é “incompreensível”, Nuno Araújo não vê outra razão que não seja “a ambição pessoal” do ex-deputado socialista.
“Não há, provavelmente, um projeto, se até agora não houve qualquer tipo de divergência política, se até agora integrou listas do PS, se participou ativamente nas campanhas eleitorais, como é que de um dia para o outro passou a haver um problema em Gondomar?”, questionou o líder distrital.
Nuno Araújo garantiu à Lusa que Carlos Brás “não tem apoios no PS/Gondomar” e que o avanço do ex-deputado surge “impulsionado por alguém ou impulsionado por algum tipo de interesse” que disse desconhecer, mas que sabe não ser “o interesse de servir a causa pública”.
Entre os argumentos para avançar com a candidatura, Carlos Brás apontou problemas na gestão financeira, que se prendiam com pagamentos em atraso a fornecedores, e no urbanismo, situações que foram confirmadas à Lusa pelo atual presidente, Luís Filipe Araújo, salvaguardando que esses pelouros não estavam sob a sua alçada.
“Eu sou presidente de câmara há três meses. Quanto aos pagamentos atrasados, devo dar nota de que as coisas estão normalizadas. Nós tivemos um período em que foi preciso regularizar pagamentos que estavam um pouco atrasados, mas neste momento as coisas estão relativamente normalizadas, não há nada de extraordinário nessa matéria”, disse o autarca.
Sobre o urbanismo, Luís Filipe Araújo esclareceu que teve esse pelouro “nos primeiros mandatos, mas depois o presidente Marco Martins ficou com ele e, atualmente, está com a vereadora Cláudia Vieira”.
“Não mexi em nada disso. Reconhecendo que há problemas nesse pelouro, nos últimos anos eu não tive responsabilidade nisso”, acrescentou.
Sobre a candidatura anunciada na terça-feira, disse “não ser para levar a sério” e que sente o “PS bastante unido, designadamente todos os presidentes de junta, candidatos às juntas de freguesia, presidente da Assembleia Municipal” em torno do projeto que lidera.
A Lusa tentou ouvir o presidente da concelhia do PS/Gondomar, que declinou prestar declarações, não tendo sido possível chegar ao contacto com Carlos Brás.
No concelho é também candidata a professora Maria Olinda (CDU).
O executivo de Gondomar tem 10 lugares, sendo seis do PS, um independente, dois do PSD e um da CDU.
As eleições autárquicas deverão decorrer entre setembro e outubro.