O queijo limiano assinalou este ano 50 anos de existência. Há dez, a marca deixou de ser produzida em Ponte de Lima, passando para Vale do Cambra. Na freguesia de Santa Comba, a vida nunca mais foi igual.
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"Foi uma tristeza muito grande. Havia famílias a trabalhar lá e isto afectou a freguesia de uma forma muito grande", reflectia Deolinda Matos, de 72 anos. Na aldeia, há pessoas que ainda se lembram das mulheres carregando cântaros com leite para o levar à fábrica. Mas a produção foi crescendo e rapidamente essa era uma imagem, apenas histórica.
Agora com 76 anos, o senhor Manuel, como é conhecido, trabalhou como camionista na empresa, durante os quase quarenta anos que ela existiu. "Ia até Chaves buscar leite. Havia viagens que trazíamos seis mil litros de cada vez", relembra. A fábrica de queijo era a sua vida onde "até chegava a trabalhar a mais pelo amor que tinha". Agora, o edifício na freguesia, parece-lhe uma fotografia de tempos longínquos, em que ali trabalhava com o seu filho, que é actualmente presidente da Junta de Freguesia.
"O fecho da fábrica foi a morte da freguesia e dos agricultores, não só de aqui como das terras vizinhas", considerou João Pereira, de 51 anos.
A produção leiteira era uma das principais actividades económicas, mas lentamente os produtores foram abandonando e deixando de ter os seus animais. "Ainda me lembro que as pessoas iam lá buscar o soro para os animais e até de empregadas que traziam o queijo de prova para casa". Hoje "já não se vêem os tractores e a há muito menos vida", constava Maria da Luz, do Auto-Café.
Mas as perdas não se reflectiram só nos postos de trabalho directos que se perderam e na agricultura. Mesmo os pequenos negócios vivem hoje numa "sombra do passado". Maria Barroso, de 54 anos, proprietária de uma mercearia garante que as vendas caíram imenso. "Havia movimento que desapareceu", disse. Curiosamente, nas suas prateleiras não se vê o queijo limiano. "Nunca mais vendi", disse com um sorriso que mostrava bairrismo.
Recorde-se que o fecho da fábrica levou a que o deputado eleito pelo CDS-PP, Daniel Campelo, fizesse uma greve de fome na Assembleia da República, tendo posteriormente, viabilizado o Orçamento de Estado do Governo de António Guterres, em troca de investimentos no distrito de Viana do Castelo. Nestes incluía-se a construção de uma fábrica de queijo em Ponte de Lima, algo que nunca veio a acontecer.