A mais emblemática livraria das Caldas da Rainha, a Loja 107, está em risco de encerrar por dificuldades económicas, 35 anos depois de se implantar na cidade como ponto de encontro e conversas em torno dos livros.
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"Devido às dificuldades que o sector [livreiro] está a atravessar estou a encarar seriamente a possibilidade de fechar as portas", disse Isabel Castanheira, livreira e proprietária da Loja 107, nas Caldas da Rainha.
Aberta em 1976, a livraria conquistou o respeito do circuito livreiro português e destacou-se na cidade onde, a par da venda de livros, a sua proprietária promoveu cafés literários com a presença do mais diversos autores e se associou à promoção e divulgação cultural.
Pela mão de Isabel Castanheira estiveram nas Caldas da Rainha escritores como José Saramago, António Lobo Antunes, Lídia Jorge, António Barreto, Mia Couto, José Eduardo Agualusa, entre muitos outros.
Já em tempo de crise, a livreira apostou nos autores de humor, como os Gatos Fedorento, Ricardo Araújo Pereira e Diogo Quintela ou o radialista Nuno Markl, que apresentou na cidade a sua "Caderneta de Cromos".
Porém, a "oferta desregrada, com enorme número de feiras do livro, e os preços agressivos praticados pelos grandes espaços comerciais retiram-nos as condições para fazer face à concorrência", admite Isabel Castanheira, lamentando a quebra de vendas que a leva a equacionar pôr fim à actividade.
"Não posso promover sessões de autógrafos e as pessoas trazerem os livros que têm em casa para autografar e não comprarem nada", afirma.
A confirmar-se o encerramento, Caldas da Rainha perde não apenas uma livraria como "um ponto de encontro e de conversas" que disponibilizava quase seis mil títulos num espaço de 60 metros quadrados, onde conviviam o busto de Zé Povinho, lagartos bordalianos que vagueavam pelo tecto, um busto de Fernando Pessoa (em terracota) ou poemas manuscritos de autores que por ali passaram.