Trabalhos de construção da Linha Rosa arrancam em breve. Comerciantes avaliam prejuízos e pedem passagem para clientes.
Corpo do artigo
Prestes a reviver um dos episódios mais traumatizantes das suas vidas, os comerciantes do Porto temem que os negócios não sobrevivam à segunda fase de construção da rede de metro. Com o arranque próximo da obra da Linha Rosa, a certeza de que voltarão a ficar vários meses - ou até anos -, no meio de um "cenário de guerra" preocupa os lojistas que pedem, sobretudo, para que as ruas não sejam cortadas.
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2020/08/20ago2020_milenem_obrasmetrolinhar_20200828202621/hls/video.m3u8
Quase todos garantem já ter sido informados pessoalmente pela Metro do Porto do início dos trabalhos para a construção de cerca de três quilómetros de túnel.
"Mas tem de haver uma vontade, por parte de quem assume a obra, de tentar contornar o fecho da rua e garantir uma passagem que permita às pessoas vir cá", atira Úrsula Ribeiro, mulher do dono do café "Magna", na Avenida de França, na Boavista. Lá, vai nascer uma nova estação de metro (Boavista/Casa da Música) e a linha vai passar mesmo por baixo da avenida.
A comerciante, de 43 anos, garante que o marido "já nem dorme" a pensar nos prejuízos que se avizinham. E há linhas de autocarro que "já começaram a ser desviadas".
9985146
A par disso, as "três derrapagens" durante a construção da estação da Casa da Música já habituaram aqueles comerciantes à demora dos trabalhos. Úrsula garante: "Certamente, esta obra também vai ter muitos atrasos".
Reviver o pesadelo
No Jardim do Carregal, onde nascerá a Estação "Hospital Santo António", a angústia ainda é maior. Até porque nenhum dos lojistas quer voltar a viver um pesadelo semelhante ao das obras do Túnel de Ceuta, que pararam durante vários anos e deixaram os comerciantes no meio do "entulho" que por lá se foi encontrando.
"Foi muito mau. Já fomos avisados que as obras iam começar, mas não adiantaram muito mais", revela o trabalhador da loja "Super-rápido do Carregal", Luciano Moreira, de 60 anos. Os trabalhadores da zona dizem ter preenchido um questionário, entregue pela Metro, para "avaliar prejuízos", afirma Avelino Dores, estofador há 46 anos na Rua de Clemente Meneres.
"Vamos passar por tudo o que passamos com a construção do túnel. E ninguém nos deu nada", lamenta o trabalhador, encolhendo os ombros. "Não acredito que desta vez vá receber alguma compensação. Ninguém dá nada a ninguém", reitera.
12315401
"Últimos a saber"
Apesar dos anúncios do arranque da obra, há quem, na Rua Júlio Dinis, desconheça o projeto. "Somos sempre os últimos a saber", critica Cristina Emílio, trabalhadora na Confeitaria Pedro Cem, assegurando que "nem a Metro, nem a Câmara" lá estiveram.
Ainda assim, a comerciante de 44 anos acredita que a futura estação "Galiza", que deverá nascer junto à Rua Piedade vai melhorar a zona. "Até para os espetáculos no Rosa Mota. É sempre muito difícil estacionar aqui", confessa Cristina.
Impugnação
O grupo Elevo, uma empresa de engenharia e construção, impugnou o concurso para a construção da Linha Rosa e expansão da Linha Amarela. A empresa afirma não ter tido tempo para apresentar propostas, cujos prazos deveriam ter sido prorrogados por conta da pandemia de covid-19. Espera-se que a obra sofra um atraso.
Menos tráfego
A Linha Rosa (ou Linha Circular) é uma solução promissora para reduzir o tráfego no Porto. Só no primeiro ano de operação, o trajeto deverá retirar mais de nove mil carros por dia no centro da cidade. A construção deste percurso custará 189 milhões de euros.