Tem quatro metros, foi feita há mais de 23 mil anos pelos artistas do Paleolítico e representa um auroque. Só é comparável à que existe numa gruta em França.
Corpo do artigo
É com orgulho que o presidente da Fundação Côa Parque, Bruno Navarro, fala da "nova grande descoberta" da equipa de arqueologia: "a maior figura de auroque (bovino selvagem) gravada em rocha ao ar livre do Mundo". Fica no sítio do Fariseu, junto ao rio Côa, mas a fragmentação do bloco de xisto fez com que só se vislumbrem alguns traços e sem a ajuda de um especialista resulta muito difícil imaginá-la inteira.
De frente para a rocha, Bruno Navarro esforça-se por mostrar o risco que daria seguimento ao focinho do auroque se a pedra onde foi picotado, há mais de 23 mil anos, ainda lá estivesse. Há uma outra linha cuja continuidade sugere o lombo e ainda uma perna. O que um leigo mal imagina, viu com clareza a equipa de arqueologia liderada por Thierry Aubry, responsável técnico-científico da fundação. São quase quatro metros de um animal que se presume ser um antepassado extinto boi selvagem, representação muito comum no Parque Arqueológico do Vale do Côa.
O que se vê melhor neste núcleo do Fariseu, em Vila Nova de Foz Côa, que só está aberto a visitas feitas em caiaque, são os auroques mais pequenos, com poucos palmos de comprimento, alguns mesmo por baixo do que parece ser da barriga do gigante descoberto no passado mês de março. Por serem gravuras que, de acordo com Bruno Navarro, "estiveram soterradas mais de 20 mil anos" estão mais conservadas. "Algumas parece que acabaram de ser feitas".
1200 rochas gravadas
O que já foi batizado como "o grande auroque" é o que menos dá nas vistas, embora "não haja outro igual" e "apenas seja comparável com o que existe nas grutas de Lascaux, em França". Por isso "tem impacto na comunidade científica e aumenta o orgulho da comunidade local e regional".
No "imenso laboratório científico" que é o Parque Arqueológico do Vale do Côa, "o maior santuário rupestre ao ar livre do Mundo", todos os anos são descobertas rochas gravadas. Já há mais de 1200 inventariadas, mas Bruno Navarro acredita que "haverá mais por descobrir". Até porque "foi encontrado um conjunto de materiais que correspondem a várias fases de ocupação".
Para além do Fariseu, o Parque tem mais três sítios visitáveis com acesso em jipe (Penascosa, Ribeira de Piscos e Canada do Inferno). Em breve serão abertos mais dois, o da Faia (Pinhel) e outro junto ao Museu do Côa.
PROJETO
Rede social do Paleolítico entre Portugal e França
Os investigadores do Côa estão convencidos que as semelhanças entre a arte pré-histórica desta região portuguesa e a da francesa de Lascaux pressupõe que tenha havido algum tipo de intercâmbio cultural e de materiais, apesar da distância de mais de 1000 quilómetros. "Mas falta provar e reconstituir essa rede social", admite Bruno Navarro. Está a ser preparado um projeto de investigação internacional para recompor a rede que terá existido há 30 mil anos e depois criar uma rota turística.