Uma empresa de calçado de Espargo, na Feira, mandou os funcionários para casa e entregou-lhes uma carta sugerindo-lhes que sejam os próprios a rescindir o contrato de trabalho.
Corpo do artigo
O Sindicato do Calçado afirma que este é um dos "muitos casos" em que as empresas tentam passar o ónus do despedimento para os trabalhadores. O JN tentou, sem sucesso, obter uma reação da empresa.
A Luís Jesus Correia Unipessoal, Lda mandou os cerca de 20 funcionários para casa na passada quinta-feira, alegando que não havia trabalho para continuar a laborar. Contudo, não comunicou qualquer intenção de encerrar formalmente a empresa nem entregou a documentação para que os trabalhadores pudessem pedir subsídio de desemprego.
Em vez disso, anteontem, os seus representantes optaram por entregar uma carta onde afirmam que não há condições para pagar aos funcionários. "A empresa encontra-se a atravessar um período de graves e enormes dificuldades financeiras. Serve a presente para declarar a impossibilidade desta sociedade no pagamento pontual dos seus créditos laborais", explica a missiva. Refere, ainda, que não se perspetiva o pagamento dos créditos já vencidos no prazo de 60 dias.
A empresa lembra que, por esse motivo, os trabalhadores poderão "levar a cabo, desde logo, a suspensão do contrato de trabalho ou até a cessação do mesmo", aproveitando desde logo para "agradecer o empenho e dedicação" à fábrica e desejando aos trabalhadores "um futuro cheio de sucesso profissional e pessoal".
"Tudo faremos para reverter a situação atual", salvaguarda, contudo, a carta.
"Inadmissível"
"Isto é uma pouca vergonha", considera a coordenadora do Sindicato do Calçado, Fernanda Moreira. "As empresas empurram os problemas que criam para cima dos trabalhadores e tentam sair impunes", referiu.
"Ninguém quer saber se os trabalhadores vão ter dinheiro para pagar as despesas, enquanto as empresas tentam forçar as pessoas a despedirem-se", concluiu.
Evereste pede insolvência mas tenta manter-se
A fábrica de calçado Evereste, em S. João da Madeira, apresentou o pedido de insolvência na sexta-feira. A empresa continua a laborar e tentar manter o negócio em funcionamento, segundo o Sindicato do Calçado. A Administração comunicou que vai tentar pagar o salário de fevereiro durante o dia de hoje. A Evereste é uma das empresas de referência da cidade.