Alferes alcançou meta com muito esforço e apoio total da família. A única mulher num grupo de oito pilotos.
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Mais de sete anos depois de ter entrado na Academia da Força Aérea (AFA), a alferes Maria Lopes, de 25 anos, natural do Entroncamento, viveu na quarta-feira, na Base Aérea (BA) 11, em Beja, o seu "dia de sonho", ao receber o brevet que lhe atribui a especialização de piloto-aviador da Força Aérea Portuguesa (FAP).
Maria cumpre o seu sonho de criança, ou não tivesse nascido e crescido numa cidade de militares que aquartela o Regimento de Manutenção do Exército que já foi Escola Prática do Serviço de Material (EPSM) e que está rodeada de quase uma dezena de unidades em Santarém, Tancos, Santa Margarida, Abrantes e Tomar.
Maria Lopes, que foi brevetada juntamente com mais sete homens, cerrou os olhos e não escondeu as lágrimas quando o padrinho, o Major-General Teodorico Lopes, lhe colocou o brevet e deu as palmadas da praxe nos braços, passando a ser a quinta mulher piloto-aviador, num total de cerca de três centenas de pilotos que a FAP tem na atualidade. Na Academia há mais cinco mulheres a frequentar o curso de pilotos, e que, faseadamente, vão estar prontas a voar nos próximos cinco anos.
Depois de terminar o 12.º ano, a alferes ingressou na AFA: "Atraída por uma tarefa difícil e eu gosto de coisas difíceis. Foi desafiante alcançar algo de singular e diferente", justificando que os cursos das universidades, que catalogou como "ditas normais", não a atraíram.
Depois do concurso, foi a formação na Academia e seguida do tirocínio nos aviões Epsilon da Esquadra 101- "Roncos" da BA11 e "volvidos sete anos e três meses sou piloto", disse a alferes. Nos próximos dias, Maria Lopes, tal como os colegas, vai ser promovida a tenente, tendo ainda em aberto o futuro quanto à aeronave a pilotar, a esquadra que vai integrar e a unidade onde será colocada. Por ser uma oficial do Quadro Permanente, vai passar os próximos 12 anos na Força Aérea.
Será o comando e os instrutores da Esquadra 101 que terão a última palavra sobre os novos pilotos, mas o futuro de Maria Lopes pode passar por Beja e pela BA11, terra e unidade pela qual ficou fascinada: "Pela paz de espírito que transmite e a recetividade das pessoas. Não me importava nada ficar por aqui".
De momento existe uma vaga para os C-295, ainda na BA6-Montijo, mas que deverá ir para Beja, três para os "aviões radares", os P-3 Orion, e quatro para os Epsilon como instrutora de voo de futuros oficiais, aeronaves adstritas à unidade alentejana. Maria quer voar mais alto e mais veloz: "O meu sonho é pilotar os caças F-16. Não há vagas, mas não é o fim do Mundo. Estou cá para lutar", concretizou.
Quando questionada se a família foi importante na decisão de ingressar na Força Aérea e concretizar o sonho, foi rápida e precisa na resposta: "Se foi importante? Mais, muito mais, foi fundamental", assumiu.
Outras mulheres na aviação
A alferes Paula Costa, que ingressou na Academia da Força Aérea em 1988, foi a primeira mulher a conseguir o brevet de piloto-aviador da Força Aérea, em 1994. No ano seguinte tornou-se instrutora dos Epsilon, da Esquadra 101. Atualmente está na TAP.
Em 2006, outra mulher fez história na instituição, a tenente Marlene, que se tornou na primeira piloto de helicópteros, nos velhinhos, mas sempre fiáveis, Alouette III, que durante 57 anos, entre 1963 e 2020, serviram a FAP.