Helena de Carvalho, nascida em Lisboa, trabalhou 41 anos na Unidade de Saúde Familiar Santa Maria. Utentes prestaram-lhe agora homenagem.
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Foi em 1980, quando a recém formada médica Helena de Carvalho, "moura com costela transmontana", como a própria se intitulou, e filha única com vontade de "abrir asas e voar", decidiu rumar ao Porto no concurso de colocação. "Tinha aqui amigos e achava que depois desta experiência regressaria a Lisboa". Mas já não voltou. Depois de, aos 24 anos, ter iniciado funções em S. Pedro da Cova, Gondomar, onde esteve seis meses, foi convidada a rumar até Rio Tinto, onde exerceu a atividade de médica de clínica geral durante 41 anos. Hoje não tem dúvidas que esta é também a sua "terra".
A confirmação da aposentação chegou de forma inesperada por email, durante as férias do final do ano, não dando a Helena oportunidade de se despedir dos seus 1960 utentes. Dezenas deles, que agora se queixam de ter ficado "órfãos", decidiram homenageá-la numa festa surpresa. "Naquele momento, senti que tudo valeu a pena! Fica a sensação do dever cumprido", desabafou ao JN a médica, visivelmente emocionada.
Alexandra Custódio, 40 anos, seguida por Helena desde que nasceu, não lhe poupa elogios: "Não havia nada que lhe pedíssemos que não tivesse solução. Tudo o que fiz pela minha saúde (emagreci 50 quilos) foi com metade da coragem da doutora Helena", que continua a dar resposta aos antigos utentes, "nem que seja através de uma mensagem pelo WhatsApp".
A médica confirma: "Tenho uma paciente que foi morar há três anos para a Madeira e ainda hoje continua a aconselhar-se comigo".
"Ficarei eternamente grato pelo carinho, pela ajuda, pela presença na minha casa ou no hospital, onde chegou a ir visitar-me, e por me ter aberto sempre a sua porta", referiu Arménio Custódio, 86 anos, doente diabético.
"Fora de série"
Martinho Ferreira, 70 anos, recorda "o dia em que mesmo sendo um domingo de manhã a doutora Helena atendeu o telemóvel pronta a ajudar". "É de uma humanidade fora de série e, por isso, é que tanta gente sente a sua falta", sublinhou.
Mas logo a profissional interrompe: "Deixei de trabalhar na Unidade de Saúde Familiar Santa Maria, em Rio Tinto, mas não me reformei da Medicina". E acrescentou: "Saí de cena, mas ficou lá a enfermeira que comigo trabalhava diretamente, os atores (utentes) continuam os mesmos e agora sou uma espécie de ponto".
Além das consultas que faz no seu consultório particular, em Rio Tinto, Helena vai continuar com "as consultas pró-bono". E o certo é que a médica ainda vai ter outra homenagem, com um piquenique na Quinta das Freiras, assim venha o bom tempo.