Por entre martelos, alho-porro, balões e o som estridente de cornetas de plástico sopradas com vigor, milhares de pessoas encheram, este domingo à noite, o centro de Braga para festejar o São João naquela que é a noite mais longa do ano na cidade.
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São Pedro voltou a ser amigo – tempo quente e seco, próprio para estar na rua, até de calções e t-shirt, ajustado para subir e descer a Avenida da Liberdade as vezes que fosse preciso. Em cada uma das viagens, uma certeza: muitos martelos e alho-porro à espreita, como o JN comprovou (literalmente).
Há os que apontam o martelo a todos os que passam, os que entrem numa espécie de despique para ver quem acerta mais vezes na cabeça do outro e até quem seja mais envergonhado, optando por um toque leve, quase tímido, só para sentir o gosto e porque as tradições são para cumprir.
Depois, ainda há os inocentemente atrevidos, como Gonçalo, de seis anos, que pede autorização à mãe para poder dar com o martelo na cabeça de um polícia. Autorizado, a seguir, pede ao agente da PSP. Dada nova luz verde, toca suavemente no boné do polícia e foge, a correr, a rir. O agente, um dos muitos que estão nas ruas, faz o mesmo – e está tudo bem.
Este é, aliás, o espírito do São João. “Está cá tudo para se divertir, para aproveitar esta noite, que é a mais bonita do ano”, diz Manuel Rocha, bracarense, presença assídua nas festas da cidade. Gosta de ver o cortejo das rusgas, aberto pelos bombos e pelos gigantones, que mais uma vez irrompeu pelo centro da Avenida da Liberdade até ao Parque da Ponte.
“É maravilhoso": brasileiros vieram para a festa
É mais ou menos a meio desse percurso que o JN encontra José Henrique e Rosana Galego, um casal brasileiro, de São Paulo, pela primeira vez nas festas de São João em Braga. “É maravilhoso, há muita gente nas ruas, é mesmo algo enorme”, diz José Henrique.
Vieram de Espanha propositadamente para participar nos festejos. “Temos amigos em Guimarães que nos falaram do São João de Braga, que devíamos vir. Foi isso que fizemos e estamos a gostar muito. A ideia é passar a noite na rua para poder aproveitar tudo”, assegura Rosana.
Uns metros ao lado, a tentativa de acender um balão rouba a atenção de dezenas de pessoas, que se juntam na expectativa de o ver subir. Eliseu, acabado de chegar de Guimarães, juntamente com a filha, puxa rapidamente do telemóvel para captar o momento.
Há duas tentativas goradas, mas depois o balão sobe até sair do horizonte do olhar e do alcance das câmaras apontadas para o céu, onde fica apenas um ponto cor de laranja distante. “Já é tradição virmos ao São João nesta noite e desta vez não fugimos à regra”, confidencia o vimaranense.
O cortejo das rusgas, que culmina no Parque da Ponte, funciona como uma espécie de corrente para ajudar a puxar milhares de pessoas da zona da Arcada para o fundo da Avenida da Liberdade, onde Salete Ferreira gostava de ver mais animação, por ser ali que está o “centro da festa”.
“A capela de São João está no Parque da Ponte, é aqui que está a verdadeira origem da festa. Por isso, tenho pena que se aposte cada vez mais em levar as atividades para o centro”, lamenta a bracarense.
Festa só termina segunda à noite
Esta noite tem ainda o fogo de artifício lançado do Monte Picoto e o concerto de David Carreira, na Avenida Central, antes do “after-party” que vai entrar pela madrugada dentro. A programação dos onze dias de festa só encerra esta segunda-feira à noite.
No dia de São João, o programa começa bem cedo, logo às 8 horas, com a entrada das bandas filarmónicas e dos grupos de animação. Uma hora mais tarde começa o cortejo sanjoanino. A aclamação das flores (17.15 horas, Largo do Paço) e a procissão (18 horas, Sé) marcam a tarde.
O concerto dos The Gift, às 22 horas, é o destaque principal da noite, antes da sessão de fogo de encerramento (23.30 horas), ambos na Avenida Central, no encerramento de uma programação de mais de 270 horas de animação.