Associação Rede de Amigos informais organiza ação a pensar nos jovens e crianças que vivem em centros de acolhimento.
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Assim que as caixas e os sacos carregados de livros - quase, quase, meio milhar, no total - pousaram no chão do pátio da Casa do Sol, Paula esqueceu-se do mundo. Ficou ali, perdida nas horas, debruçada à descoberta de cada um dos volumes que acabavam de chegar do Comando do Porto da GNR, onde, há sete anos, um militar criou a Missão RIA para poder ajudar crianças e jovens que vivem em centros de acolhimento, a partir da Rede Informal de Amigos (RIA) que começou a tecer junto dos contactos próximos.
"Estou no paraíso!", repetia Paula, radiante, entre uma caixa e outra e quase sem levantar a cabeça, na ânsia incontida de ver tudo de uma só vez. Alguns dos livros já lera, mas muitos eram novidades que separou logo para levar para o quarto. E para os mais antigos determinou um destino cuidado: "É para proteger!". Alice, colega com quem partilha a casa, a idade - 17 anos - e a turma do 11º ano de Humanidades, também recebera os militares na tarde de quarta-feira, e ia ajudando na triagem dos títulos.
"Como já não tinha mais livros para ler, a Paula tem lido em suporte digital, mas não é a mesma coisa", lembrava a educadora social Ângela Ferreira, que é diretora técnica da Casa do Sol, o centro de acolhimento da ASAS - Associação de Solidariedade e Ação Social de Santo Tirso onde as duas jovens - aqui com nomes fictícios, para proteção das identidades - vivem com mais quatro raparigas e seis rapazes, entre os 12 e os 20 anos.
"Nunca mais vou esquecer: a Paula entrou nesta casa aos 13 anos, com os "Lusíadas" debaixo do braço e um caderno de poemas dela. Perguntou-me: posso ler-lhe um dos meus poemas?". Ângela enternece-se com a recordação, e conta que "a Paula vibra com os livros. É uma paixão. Gosta muito de ler; é o mundo dela". "E de escrever", atalha a rapariga. Lançada no início do ano pelo mentor da RIA, a "Missão Leitura" encheu de felicidade a adolescente que gosta de "cheirar os livros" enquanto lê e preencheu a biblioteca da Casa do Sol, deixando os jovens ali acolhidos "muito entusiasmados".
"Agradeceram muito, e escolheram os livros conforme as áreas de interesse de cada um", descreve Ângela Ferreira.
"São gestos simples e que fazem toda a diferença", observaria a capitão Carla Passeira, que comanda o Destacamento de Santo Tirso e está entre os embaixadores da Missão RIA - perto de 200 elementos destacados para divulgar a iniciativa, que tem grupos nas redes sociais. Tal como o coronel António Araújo, que também participou na "gratificante" entrega dos livros à ASAS e lembra que o projeto se "replica com as nossas próprias redes de contactos".
Missão RIA faz sete anos e ajuda sete casas de acolhimento
A "Missão Leitura" assinala os sete anos da Missão RIA, que se celebram neste mês, e permitiu angariar perto de mil livros.
Os volumes doados pelos grupos de amigos que compõem a RIA são destinados a sete centros de acolhimento de crianças em risco das zonas de Santo Tirso, Porto, Penafiel, Gondomar e Aveiro, como indicou o militar da GNR que criou e dinamiza a Missão RIA, mas que prefere manter-se no anonimato.