Povoado de montanha de Santo António de Vale de Poldros, para onde o gado era levado para pastorícia no verão, ganhou vocação turística.
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O licenciamento de novas construções ou reconstruções na antiga branda de Santo António de Vale de Poldros, em Monção, vai, ao que tudo indica, a partir do segundo semestre, passar a obedecer a um regulamento criado pela Câmara, de forma a salvaguardar aquele património raro.
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Um aglomerado habitacional a mais de mil metros de altitude, na freguesia de Riba de Mouro, que antigamente era usado pelos pastores (brandeiros) para passar o verão com o gado, ganhou, nos últimos anos, uma nova vocação turística. E o objetivo da autarquia é conservar a tipicidade de Santo António de Vale de Poldros. E principalmente as cardenhas ou cardenhos, como lhes chamam as gentes da montanha (pequenas estruturas em pedra onde os pastores pernoitavam e guardavam os instrumentos de pastorícia). Aquelas construções, apesar de algumas já votadas ao abandono, ainda resistem ao fim da transumância (deslocamento sazonal de rebanhos para locais que oferecem melhores condições durante parte do ano), mas os seus brandeiros estão em vias de extinção.
"Os velhos tempos acabaram e a qualquer hora acabamos nós também", diz Eva Teixeira de 86 anos, mais conhecida por Lola e que foi uma das últimas a largar a pastorícia na branda de Santo António. Outro dos raríssimos testemunhos vivos daquele tempo é Valdemar Martins de 78 anos. "Somos os que ainda vigoramos", afirma.
Valdemar e Lola subiram à branda com o JN, para recordar uma época "feliz", que já lá vai. E não volta. "Andámos cá muitos anos. Agora, trabalhar, já não. Vimos cá de vez em quando, passear e comer uma merenda", conta Lola, referindo que "as saudades já passaram". "Não podemos lembrar toda a vida. Já se sabe que não vimos mais", desdramatiza.
Ida e volta
Valdemar recorda como era a vida no cimo da montanha, onde pouco mais se escuta do que o vento e o cantar de pássaros. "Estávamos aqui dois meses com os animais, o junho e o julho. Íamos embora e voltávamos no setembro para cavar as batatas e estar mais oito ou 15 dias. Depois, quando o tempo estava "bô", vínhamos todos os oito dias limpar os campos", descreve.
Estes últimos brandeiros conheceram-se na própria branda. "Éramos como uma família. Vinha muita gente. Éramos 30 ou 40 pessoas. No verão, púnhamo-nos aí à sombra a conversar. Não havia televisão nem nada. Hoje, o lugar não tem gente", descreve o brandeiro, adiantando que a branda "antes era para o lavrador e agora é para o turismo".
Por causa da crescente procura turística daquela zona de montanha, a Câmara avançou com o Plano de Pormenor de Salvaguarda, que tem como finalidade preservar aquele "núcleo com história de eventuais pressões construtivas".
Além disso, Maria Alves e Alda Barreiros, naturais de Riba de Mouro, fizeram o levantamento de usos e costumes daquela região, assim como do dialeto, que vão ser publicados em livro.