Mondim de Basto vai aproveitar os seus imensos recursos naturais para chamar mais turistas ao concelho. Já fazia bandeira das fisgas de Ermelo e do monte da Senhora da Graça, entre outros locais. Agora está a criar uma rede de levadas na serra do Alvão.
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As levadas são canais feitos pelo homem para transportar água para regar campos agrícolas e lameiros, semelhantes às mais conhecidas e mais divulgadas da ilha da Madeira, que já são verdadeiras atrações turísticas (ler caixa).
Em abono da verdade, o conhecimento que permitiu a construção das levadas insulares foi levado das Terras de Basto, particularmente de Mondim, há vários séculos. E os canais de irrigação ainda hoje cumprem a sua função. Só não têm o potencial turístico completamente explorado.
O presidente da Câmara de Mondim de Basto, Bruno Ferreira, inscreveu, há dois anos, no seu programa eleitoral, o objetivo de dar mais protagonismo às levadas e, através delas, aumentar a atratividade turística do concelho, à semelhança do que a Madeira faz há muitos anos.
"autenticidade"
O objetivo é "preservar e valorizar as levadas", mas, simultaneamente, "abrir estes canais aos visitantes que queiram encontrar um produto turístico autêntico e genuíno". Bruno Ferreira explica que ao longo de qualquer percurso "o cenário encontrado é sempre diferente". E é esta "autenticidade" que pode levar os turistas a percorrer o Parque Natural do Alvão, de forma "sustentável" e acompanhados de "uma beleza sem igual".
O presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, acredita que a aposta em produtos como as levadas do Alvão permite fazer "uma melhor distribuição dos turistas" que chegam de avião ao Porto. Em 2019, o Norte teve cerca de "seis milhões de turistas", mas "mais de 75% ficaram retidos na área metropolitana". Desde então, o trabalho tem consistido em arranjar formas de os pôr a "percorrer toda a região".
O turismo de natureza permite prolongar a época alta e, segundo Luís Pedro Martins, "mesmo no inverno já se consegue garantir a presença de turistas escandinavos, bem como os oriundos dos mercados brasileiro e americano, que são muito importantes para a região e que são os que mais gostam de sair das cidades".
Agora, o objetivo é fazer com que os turistas possam permanecer mais do que uma noite no concelho de Mondim de Basto, onde se pretende "tirar mais partido, para além do património natural, do património cultural e religioso, bem como da gastronomia e dos vinhos verdes".
A autarquia de Mondim realiza, terça-feira, uma conferência dedicada às levadas do Alvão. Começa às 9.30 horas, na Casa da Cultura - Favo das Artes.
Um exemplo do século XIII que inspirou a Madeira
Na ilha da Madeira, que tem cerca de 735 quilómetros quadrados de extensão, existem "quase 3100 quilómetros de levadas, de acordo com Susana Fontinha, coordenadora da candidatura das levadas da Madeira a Património Natural da Humanidade. Existem desde o século XV, mas, quando o geógrafo e investigador Raimundo Quintal visitou a levada de Piscaredo, em Mondim de Basto, "construída, no reinado de D. Afonso II, no século XIII", ficou "convencidíssimo" de que "foi daqui que foi levada a informação técnica para a construção das da Madeira".