Só serão autorizadas novas frentes de obra do metro do Porto quando terminarem os trabalhos que ainda decorrem na cidade. É isso que promete o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Em causa está o impacto dos trabalhos no trânsito: a situação é "catastrófica".
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"Estou extremamente preocupado com o incumprimento sucessivo de tudo aquilo que são prazos que nos são dados sem explicação aparente", alertou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, durante a sessão extraordinária da Assembleia Municipal que decorreu esta segunda-feira à noite. O autarca justificou a sua indignação pelo impacto dos trabalhos no trânsito e deu como exemplo as obras do metrobus na Avenida Marechal Gomes da Costa.
"Foi-nos dito, em final de junho, que precisariam de reduzir para apenas uma faixa de cada lado durante o prazo de um mês, entre 15 de agosto e 15 de setembro. Os moradores foram informados dessa circunstância por carta. A obra continua. Começaram por dizer que era uma questão de arqueologia, mas a arqueologia resolvia-se em cinco minutos, ou cinco dias ou dez dias. Depois era o método construtivo. A verdade é que aquilo está a causar um enorme constrangimento e o que me dizem é que, por causa disso, o metrobus até está atrasado já em quatro meses nesta altura. O que até vai coincidir com a chegada dos veículos. Deve ser um mero milagre", ironizou o autarca, mostrando-se, uma vez mais preocupado com a capacidade da empresa em concluir as obras da Linha Rosa que ainda estão em curso na cidade.
O próprio presidente da Assembleia Municipal, Sebastião Feyo de Azevedo, concordou com as palavras de Moreira.
Foi Nuno Borges, deputado do PSD, quem introduziu o tema aquando da deliberação sobre os estatutos da STCP para uma maior fiscalização do estacionamento abusivo em espaços reservados ao transporte público: a operação "via verde". A proposta foi aprovada com os votos contra da CDU e a abstenção do BE.
"A cidade não pode morrer por causa do PRR"
De acordo com Rui Moreira, nenhuma das frentes de obra relacionadas com a construção do traçado de metro entre a Casa da Música e S. Bento, no Porto, estará prestes a fechar. "E agora querem começar a Linha Rubi. Quero dizer às senhoras e senhores deputados que, em contacto telefónico com o presidente da Metro [Tiago Braga] e com o secretário de Estado [da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado], lhes disse que, naquilo que depender do presidente da Câmara do Porto, não vamos permitir nenhuma frente de obra para a Linha Rubi que provoque qualquer constrangimento ao trânsito", afiançou.
O autarca explica que falava-se já na necessidade de cortar a linha do elétrico na marginal do Porto, junto à Repsol. O posto de combustível na Rua do Ouro terá de ser demolido para dar lugar aos pilares da nova ponte e garantir o atravessamento do metro até Gaia.
"Nós não vamos permitir e eu estou a assumir esta responsabilidade. Não quero saber do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]. A cidade não pode morrer por causa do PRR", apelou Moreira. O programa garante o investimento para a construção do segundo traçado de metro entre o Porto e Gaia e obriga à execução do projeto até 2026. Caso contrário, a Metro corre o risco de perder o acesso à verba de 379,5 milhões de euros. A obra foi adjudicada no início de outubro.
Moreira garantiu ter dito ao secretário de Estado, "que ainda por cima foi presidente da Metro do Porto", que a Câmara do Porto não irá autorizar "mais nenhuma frente de obra enquanto não fecharem as que estão a fazer". "Se hoje não conseguem fazer estas obras, tratando-se provavelmente das mesmas empresas e dos mesmos fornecedores, vão transformar a cidade num caos e a cidade hoje está numa situação caótica porque os cronogramas que nos foram apresentados não têm sido cumpridos e não são cumpridos sucessivamente", critica o autarca.
"Peço que me apoiem nesta matéria. Imaginem o que seria agora termos constrangimentos no Campo Alegre e na marginal. Não é possível. A cidade não aguenta. Podem querer fazer pontes e o que quiserem. A cidade não pode ser vista como um campo para fazer experimentalismos. Se quiserem, acabam primeiro a Linha Rosa, fazem o metrobus e quando fizerem isso, com certeza já não serei eu, há de ser o meu sucessor a passar uma licença para fazerem as obras para a Linha Rubi. Se não houver PRR, não há PRR. Se não houver ponte, não há ponte. O que não podemos é ter linhas e não ter pessoas e não ter empresas. Neste momento, a situação é absolutamente catastrófica", assevera Rui Moreira.
Rui Sá: presidente da Câmara "tem de ser mais consequente"
Já Rui Sá, da CDU, quis recordar que o autarca esteve ao lado do então ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, "quando apresentou a ponte sobre o rio Douro" e da qual Moreira "discorda". "Disse que não autorizaria as obras do metrobus sem se resolverem os atrasos da Linha Rosa, mas esteve na Casa da Música, ao lado dos dignitários governamentais, quando foi apresentado o metrobus e as obras que iriam ser feitas. E diz agora que não deixa avançar a Linha Rubi enquanto não se resolverem estes problemas. Acho que tem de ser mais consequente nesta matéria", aconselhou o deputado.
Em resposta, Moreira reafirmou o seu descontentamento com a localização da ponte. "Já há muito que sabíamos que estava a pensar-se numa [segunda] ligação entre Gaia e o Porto. Não fazia a mais vaga ideia de que a ponte iria ser colocada ali. Nem o senhor nem eu gostamos daquela colocação da linha. Mas a razão pela qual nós não queremos agora que ela se faça nesta altura, não tem a ver com isso. Tem a ver com uma situação diferente: a cidade, neste momento não aguenta", insistiu o presidente da Câmara.
Já Miguel Côrte-Real, líder do grupo municipal do PSD, acusou mesmo a Metro do Porto de "enganar os portuenses" quanto às obras na Avenida Marechal Gomes da Costa. "Se a ambição era fazer aquela obra num período de férias escolares, por que não a fizeram mais cedo? E assim tinham dois meses. Falhavam por menos", ironizou o deputado.
"Estas e outra obras que estão a acontecer na cidade estão a causar muitos problemas aos portuenses. Não podem haver mais obras. Enquanto a Metro do Porto não tiver a capacidade de fazer promessas que pode cumprir e enquanto não tiver a capacidade de conseguir executar as suas obras não podem. A cidade não aguenta", concluiu.
Também Jerónimo Fernandes, do Chega, disse apoiar o Executivo nesta tomada de posição.
José Maria Montenegro, do grupo independente de Rui Moreira, quis responder à "convocatória". "Vemos a Linha Amarela praticamente pronta até Vila d'Este. Aquilo está lindo. E vemos o centro da nossa cidade esventrado há não sei quanto tempo e nunca mais o libertam. E agora temos este lindo serviço na Avenida Marechal Gomes da Costa", criticou o deputado.
"Temos de ser exigentes perante a Metro do Porto e perante os calendários que nos apresentam. Isto não pode ser. É evidente que não pode ser. E portanto, senhor presidente, sim, juntamos a nossa à sua voz. Tem toda a razão e esperamos que a Metro do Porto nos esteja a ouvir, o presidente Tiago Braga nos esteja a ouvir e que seja consequente".