Curso de arte sacra arrancou no início deste ano. Há apenas um homem entre os alunos, num ofício outrora dominado pelo universo masculino
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Há em cada canto goivas e formões com que se molda a madeira, serras, tornos, compassos, plainas, máquinas para afiar as ferramentas, bancadas para domar a matéria-prima em bruto... “O trabalho não é pera doce, porque é exigente a nível físico”, testemunha o santeiro Augusto Ferreira, de S. Mamede do Coronado. Mas o curso profissional de arte sacra, que é pioneiro no país e decorre na Trofa desde fevereiro passado, faz-se quase exclusivamente com mulheres: entre os 15 formandos, há apenas um homem; elas podem salvar este ofício da extinção.
Professor do curso na área de escultura, Augusto confessa que o “surpreendeu o facto de a maioria [dos alunos] serem mulheres”, até porque o ofício secular de santeiro, muito focado em S. Mamede do Coronado, extremo sul do concelho, foi desde sempre um universo exclusivamente masculino. “Há cem anos, era impensável uma mulher frequentar uma escola de artes. De santeiros, nem pensar. Mas, hoje, a abertura é diferente”, reflete o escultor, satisfeito com o “interesse muito genuíno” demonstrado pelo grupo de formandos, com idades entre os 19 e os 63 anos.