A maternidade do Hospital de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, está a mudar para tornar o parto mais humanizado. Os profissionais estão a receber formação e as instalações e equipamentos vão ser renovados.
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Núria Vives Parés, a formadora do curso "Parto em movimento", prefere falar de "parto natural". A terapeuta psicomotora e autora do livro "Parir en movimiento", explica ao JN que se trata de um ato com a mínima intervenção possível, "aquele em que a mulher pode escutar o seu corpo e seguir aquilo que ele lhe pede". Segundo Núria, "se a parturiente necessita de se deitar, que se deite, se quer mover-se, deve poder, se se sentir melhor de joelhos, pois que se coloque". O princípio da intervenção mínima que preside à formação ministrada a enfermeiros e a médicos da maternidade do hospital é que a mulher possa iniciar e levar o parto até ao final em contacto com o seu corpo.
"O que se pretende é que a equipa obstétrica possa acompanhar a mulher nas suas necessidades, mas pensando que o parto é algo que pertence à natureza", explica Núria Parés.
Grande disponibilidade
José Fortunato, o diretor do serviço de maternidade, reconhece que existem obstáculos a que o processo decorra desta forma. "Problemas relacionados com a forma como os equipamentos e as instalações foram pensados. Do ponto de vista humano, há uma grande disponibilidade", afirma.
O diretor de serviço aponta a adesão dos profissionais a esta formação (90%), tanto médicos como enfermeiros, como prova da vontade em mudar. Núria ficou surpreendida com a participação dos médicos. "O parto normal, que é o que tratamos aqui, é visto como o território da enfermeira parteira. Só quando as coisas se complicam é que o médico entra. Então, há médicos que acham que isto não é para eles", reconhece.
Lisete Veiga, enfermeira gestora da sala de partos, salienta a importância de os médicos estarem envolvidos nesta formação. "Aqui trabalhamos em equipa e a comunicação torna-se mais fácil", diz . Lisete encontra cada vez mais mulheres e casais que "não querem sentir que vêm para o hospital, mas sim para uma maternidade, onde vão ter uma experiência maravilhosa, algo que fica gravado para toda a vida".
José Fortunato sublinha que se ganhou muito quando os partos deixaram de ser feitos em casa. "No ano em que eu nasci morreram de parto 300 mulheres, desde que sou diretor de serviço, há vários anos, perdemos duas mulheres, porque tinham graves complicações associadas", refere. Mas também se perdeu alguma da humanidade associada ao momento e o hospital quer recuperá-la.
Núria dá o exemplo da anestesia: "Não pode ser para um parto como é para uma apendicite. Se a mulher não sente nada, fica ali na marquesa à espera de que lhe tirem o bebé".
A maternidade do hospital já está a mudar. Em janeiro chegam aparelhos de cardiotocografia por telemetria. As mulheres deixam de ter de estar deitadas para que se faça a monitorização do feto. Entretanto, o serviço vai passar a ter relaxamento na água por imersão e com jatos, equipamentos de suspensão e outros aparelhos que normalmente associamos com aulas de pilates. O objetivo final é que cada mulher possa descobrir qual a melhor posição para ter o bebé e que os protocolos, o espaço físico ou os equipamentos não sejam uma limitação.