<br/> Eram para ser mil, mas acabaram reduzidos a "metade". Ainda assim, um número bastante satisfatório para a Associação dos Amigos da Praia da Barra (AAPB), que não poupou esforços para garantir as condições de segurança dos que fizeram questão de cumprir a tradição e começaram o ano a mergulhar no mar da Barra, no concelho de Ílhavo.
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Não há chuva que afaste quem realmente quer ir. A "expectativa inicial eram mil pessoas [a ir ao banho], mas devido ao mau tempo reduzimos para metade", conta Manuel Trovisco, presidente da AAPB, revelando que a organização chegou a ponderar cancelar.
Pelas 7.30 horas reuniu com a autarquia e com o capitão do porto - uma vez que a região estava sob alerta vermelho -, tendo sido informado que estavam reunidas condições de segurança para mergulharem, desde que o fizessem na praia velha, que tem menos ondulação. Foi o que aconteceu, sob o olhar atento de dois nadadores-salvadores, elementos dos bombeiros, GNR e Polícia Marítima, apoiados por uma moto de água e ambulância.
Entre os banhistas contaram-se pessoas da região e até de outros países. Sérgio Trigo, de Ciudad Rodrigo, Espanha, por exemplo, veio propositadamente a Portugal para dar continuidade ao que já se tornou uma tradição no seu grupo de amigos e entrar "com o pé direito" em 2023. Desta vez o traje foi especial: levou o vestido de noiva da irmã, cumprindo uma promessa feita durante a pandemia. Os votos para 2023 incluem o fim da "covid e da guerra".
Os desejos repetem-se na boca dos banhistas ouvidos pelo JN: saúde e paz. Mas ganham particular relevo na de Ivan Kobevko, um ucraniano que se fixou em Águeda há 20 anos. Na terra natal continuam uma "irmã e um cunhado, na guerra". O sobrinho chegou a Portugal no ano passado. Ao mergulhar, pediu "muita saúde e que pare a guerra na Ucrânia".
Vivemos tempos de crise, as pessoas andam muito apressadas e esquecem-se de viver
"Vivemos tempos de crise, as pessoas andam muito apressadas e esquecem-se de viver. Esta é uma forma de agradecer o que temos, de estamos entre amigos" explica Rosa Rodrigues, que se fez ao mar com colegas da pastelaria Badaró. Geralmente vai integrada num grupo de 25, mas ontem só mergulharam 10. "Os outros que estão ali [no areal], foram manhosos", conta, divertida, garantindo que no próximo ano terão de "dar seis mergulhos em vez dos três" que são tradição, para compensar.
Miguel, 10 anos, mergulhou pela primeira vez ao lado do pai, Cândido Cruz, porque "queria sentir como era a experiência".
Está frio mas foi muito fixe!
Já para Ana Oliveira, o mergulho é "da praxe, para carregar energias". Ontem levou a afilhada, Maria, que celebrou o 15.º º aniversário na água. "Está frio, mas foi muito fixe", disse a jovem.
João Campolargo, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, acredita que o evento tem condições para "crescer nos próximos anos", ajudando a atrair cada vez mais pessoas às praias do município.