A possibilidade de um novo encerramento das fronteiras devido ao aumento do número de casos de covid-19 está a deixar apreensivos os trabalhadores transfronteiriços, comerciantes e autarcas. O ministro dos Negócios Estrangeiros português vai abordar, esta sexta-feira, a evolução da pandemia em Portugal e Espanha com a homóloga espanhola, e o fantasma do fecho volta a assombrar a atividade económica.
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Em Valença, onde se situa "a fronteira mais movimentada do país", o presidente da Câmara, Manuel Lopes, elevou ontem a voz contra a eventual medida, que, garante, "os autarcas da raia não vão admitir". "Nem me passa pela ideia, a mim ou aos meus colegas raianos, que haja um corte de fronteiras nos mesmos moldes de 16 de março a 30 de junho", declarou o edil, referindo que "os danos são irreparáveis para a economia".
Recorde-se que da primeira vez, e já na fase de desconfinamento, os autarcas do Alto Minho e os congéneres galegos manifestaram-se várias vezes pela reabertura em prol da sobrevivência económica. "Foi um mau exemplo. De um dia para o outro, fecharam e não se contemplaram os problemas que daí advieram", disse.
Trabalhadores apreensivos
Entre as preocupações figuram os trabalhadores das duas margens que diariamente cruzam a fronteira e que foram afetados pelo fecho de cinco das seis pontes sobre o Minho. Sujeitos a filas demoradas e maior gasto em deslocações.
"Para ser sincero, só vinha trabalhar para não perder o posto de trabalho, porque não ganhava nada", contou José Ferreira, 26 anos, que vive em Salvaterra do Minho e trabalha num posto de combustíveis nos arredores de Monção. Antes da pandemia demorava "alguns minutos", mas com o encerramento da ponte Monção-Salvaterra, passou a fazer cerca de 200 quilómetros por dia e a demorar horas na viagem.
Cátia Mesquita, 32 anos, cabeleireira, vive em Monção e trabalha em Salvaterra. Considera que "é uma falta de respeito para com os trabalhadores se fecharem as fronteiras outra vez. Devido ao encerramento, já fecharam muitos negócios e, se voltam a fechar as fronteiras, irão fechar todos".
O secretário-geral do Eixo Atlântico, Xoan Mao disse, à Lusa, não haver motivos que justifiquem novo encerramento, defendendo um reforço das medidas preventivas. "Não vejo que a situação nos dois países justifique o encerramento de fronteiras. Há um aumento de casos nos dois países, mas não põe em risco os hospitais, nem as Unidades de Cuidados Intensivos. Por outro lado, também não há um aumento do número de mortes como aconteceu durante o período de confinamento, quando foram repostas as fronteiras", afirmou o responsável.