A Cidade do Porto assistiu à demolição do velho Palácio de Cristal em finais de 1951. Edifício estava muito degradado e era preciso construir um pavilhão que acolhesse o mundial de hóquei em patins, no ano seguinte.
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Assunto de que ainda se fala com relativa frequência, apesar de facto já longínquo, a demolição do antigo Palácio de Cristal, no Porto, resultou de uma rápida decisão da Autarquia e teve como principal impulso um acontecimento que encheu de orgulho a cidade: a organização de um campeonato do Mundo de hóquei em patins. Corria o ano de 1951, já nos finais, quando se anunciava que o velho edifício inspirado no Crystal Palace londrino seria deitado abaixo, para no seu lugar ser erguido um pavilhão de desportos que acolhesse, no verão do ano seguinte, o referido evento.
Não houve debate público e de nada valeram as vozes de eminentes figuras da cidade que defendiam a preservação do edifício, inaugurado com pompa e presença régia em 1865, por ocasião da Exposição Internacional do Porto. No dia 16 de dezembro de 1951, o JN chamava o tema à primeira página: "Inicia-se amanhã a demolição do Palácio de Cristal". E assim foi.
O médico e antigo presidente da Câmara Alfredo de Magalhães (a quem se deveu, em 1934, a aquisição do Palácio por parte da Autarquia) e o arquiteto Rogério de Azevedo foram dos que se pronunciaram contra a demolição, mas nada puderam face à decisão do executivo municipal liderado pelo coronel Lucínio Presa. O JN foi acompanhando o tema com notícias diárias, em muito focadas na organização do mundial de hóquei e na construção do pavilhão de desportos.
O recinto desenhado pelo arquiteto José Carlos Loureiro (1925-2022) começou a ser construído no início de 1952, tendo acolhido o campeonato sem que a abóbada estivesse concluída. Viria a inscrever o seu nome na história da cidade, mas continua a haver muita gente que, por apego emocional ou saudosa memória, ainda usa a primitiva designação.
Relatos da altura fazem crer que o Palácio de Cristal já nascera com pouca saúde e pouco remédio teria a não ser o destino que lhe foi dado, devido à falta de manutenção e de uso regular. O JN referia que o recinto era "quase impraticável para quaisquer iniciativas de largo alcance", numa altura em que servia para festas de Carnaval, bailes de S. João ou exposições agrícolas.
O próprio José Carlos Loureiro recordou-nos, em 2018, o estado em que o conheceu: "O ferro estava desgastado, os vidros partidos ou estalados, a estrutura podre e enferrujada, entrava água. Enfim, uma desgraça". Ainda assim, reconheceu que "a ideia de substituir o velho Palácio de Cristal por uma construção nova foi algo que muita gente considerou um erro". Sem reparos, só mesmo a conquista do mundial pela seleção lusa.