Matança do bísaro à moda antiga em Paredes, Montalegre, atrai cada vez mais gente. Os da terra gostam de ver o que já rareia, os de fora o que nunca viram.
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Os alguidares de barro já estão prontos, o banco de madeira no lugar... "Quem falta?". "Faltam os do Pereira para se agarrarem à cabeça!". Faltavam. Ainda mal davam pela sua falta, já os do Pereira, um grupo de jovens da Trofa, se encaminhava até ao fundo do pátio da casa antiga. Luís, um jovem de Montalegre, é o primeiro a atirar-se ao bicho. Os outros acompanham-no. O porco, um bísaro, parecia dominado. Parecia. Num ápice, soltou-se e irrompeu pátio acima. "Isto é uma brincadeira! Antigamente, era sempre assim!", explica Teresa Moura, a mulher, de 80 anos, que diz que quem sabe ler, deve ler livros e que quem não sabe, deve cantar e dançar. Ela canta.
Novo ataque ao porco. Os da terra, mais experientes, ajudam. À segunda, foi de vez. Porco em cima do banco. António Pereira Moura já estava à sua espera. Sem contemplações, enfia-lhe a faca. O sangue jorra com força. Não pode haver hesitações. "Se deixamos que o ele se enerve, o sangue não sai, fica tralhado", explica o matador. De porcos. "Se for uma galinha ou um cabrito, já não sou capaz, não sei... os porcos, como sei que tem que ser, já não me custa", explica António, que aprendeu a arte há 30 anos com um tio.
Mas a procissão ainda vai no adro. Falta chamuscar o porco. Começa-se à moda antiga. Com carquejas. Mas a chuva humedeceu-as e custam a arder. Para abreviar, vai buscar-se o maçarico a gás. Os da Trofa já só apreciam. E bebem. Vinho. "Há três anos que venho cá com os meus amigos. O meu pai tem aqui uma casa. Veio cá um vez e apaixonou-se pela aldeia. Agora ainda venho cá mais vezes que ele", explica André Pereira, de 24 anos.
Na varanda, por cima do pátio, Odete Henriques, de Lisboa, não tira os olhos do enorme porco. Chocada? "No início estava com medo que o bicho fosse sofrer muito, ainda tremi um bocado, mas à primeira facada morreu logo, não custou nada", confessa.
As matanças à moda antiga, em Paredes, no concelho de Montalegre, atraem cada vez mais gente. Os da terra gostam de ver o que já rareia, os de fora, o que nunca viram. Pelas contas de Acácio Moura, Associação Social e Cultural de Paredes do Rio, ao almoço ter-se-ão sentado à mesa entre 100 e 120 pessoas. Muitos são convidados, mas também há turistas pagantes. Já são rentáveis as iniciativas? "Só não o são porque não temos capacidade para receber mais gente. Tive de recusar uma excursão de Vila do Conde. Era um autocarro cheio", garante Acácio Moura, que, juntamente com o Ecomuseu do Barroso, tem vindo a recuperar uma série de tradições barrosãs: Para que os costumes não morram, mas também para que a economia local ganhe vida.
