O silêncio e o ambiente de luto imperaram na procissão do Enterro do Senhor, a última grande encenação da Semana Santa de Braga. O esquife do Senhor morto saiu, esta sexta-feira, pelas 21.30 horas, da catedral da Sé, e percorreu algumas artérias do centro histórico da cidade.
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"Esta é a procissão mais triste. Serve para refletir", afirmou Ana Almeida, que se fez acompanhar da família. "Estávamos com saudades", referiu, ao lado do pai, Francisco, impressionado com a multidão que encheu várias artérias entre a Igreja de Santa Cruz e a Sé. "Está muito mais gente do que noutros anos. Quase à hora de começar a procissão, ainda, costumava haver umas abertas, mas este ano está cheio", descreveu o bracarense, enquanto aguardava pelo início da celebração, junto à sede da PSP.
Para quem é de Braga, ir às procissões é uma tradição. César Pereira leva, agora, uma cadeira para assistir ao cortejo, mas o próprio admite que já vestiu a pele de farricoco. "Não era fácil, há pessoas que não nos respeitam e até me lembro de chegarem a atirar beatas", recordou, junto da filha, a quem quer passar "as tradições". "Ir às procissões é uma boa maneira de sentirmos a Páscoa", sublinhou.
Há, também, muitos que foram assistir à recriação do Enterro do Senhor, pela primeira vez. É o caso de Maria Miranda, de Barcelos, que "já ouvia falar há muitos anos, mas nunca tinha vindo". "Este ano, não houve procissões em Barcelos e viemos cá", revelou, timidamente, minutos antes dos militares da GNR, nos seus cavalos brancos, darem início à cerimónia.
Foi nessa altura que o público mais velho pediu silêncio às crianças mais agitadas. Ao contrário da noite de quinta-feira, as matracas dos farricocos não fizeram o típico ruge-ruge e os fogaréus seguiram sem chama. As bandeiras e estandartes arrastaram-se pelo chão e as figuras alegóricas envergaram um véu, em sinal de luto.