A escola do 1º Ciclo de Penhas Juntas, no concelho de Vinhais, acolhe uma experiência distinta: durante o dia são as crianças que vão às aulas, à noite no mesmo quadro escrevem os pais as primeiras letras. A experiência corre lindamente, mas a escola vai fechar.
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Pais, alunos e professores de Penhas Juntas estão satisfeitos com o trabalho desenvolvido. A instituição recebeu pela primeira vez um curso de alfabetização de adultos do Ensino Recorrente. Nas mesmas cadeiras em que as crianças estudam durante o dia, sentam-se à noite os pais. Todos dão os primeiros passos nas letras, uns porque estão em idade escolar outros porque na meninice não tiveram oportunidade de ir à escola. Este é ainda o único estabelecimento de ensino do distrito que tem uma percentagem maior de alunos de etnia cigana.
Maria Lousada, professora, tem a tarefa de ensinar os mais novos e classifica a experiência como "óptima". Admite que teve necessidade de aprofundar mais a sua própria maneira de ser e de estar ao lidar com alunos que vêm de uma cultura familiar diferente. "É um grupo quase exclusivo de etnia cigana, mais duas crianças que vieram de Leiria, depois de o ano lectivo arrancar. Nunca me tinha acontecido. Gostei, são alunos assíduos e pontuais", afirmou.
O programa de formação de adultos é um projecto do Agrupamento de Escolas de Vinhais por dois anos, estando a poucos dias de terminar a primeira fase.
Margarida Magalhães, a professora dos pais, considera a experiência "surpreendente", sobretudo quando vê a alegria dos adultos ao conseguirem assinar o seu próprio nome. "Nenhum deles alguma vez tinha tido a assinatura no Bilhete de Identidade ou no Cartão de Cidadão. Agora assinam e ficam muito felizes", contou a docente.
Desde que vão à escola, os alunos mais velhos passaram a valorizar mais o ensino "e transmitem isso aos filhos", acrescentou. Muitas noites, pais e filhos acabam por juntar-se. Para não deixar as crianças sozinhas, levam-nas para as aulas. "A assiduidade dos filhos está relacionada com a adesão dos pais. Têm resultados e entusiasmam-se e transmitem isso mesmo aos mais pequenos", justificou Margarida Magalhães.
As crianças não levam os livros para casa durante todo o ano lectivo, deixando-os na escola para não se estragarem. O mesmo sucede com o computador Magalhães. É ainda na escola que fazem todas as refeições, que são suportadas pela Câmara de Vinhais e pela junta. Se a escola encerrar no próximo ano, muitos destes jovens ficarão desprotegidos, considera Maria Lousada. O estabelecimento foi oficialmente encerrado há três anos, mas manteve-se aberto a título excepcional. Poderá encerrar no próximo ano.