Nova atração de Arouca deve abrir ao público ainda este mês. Poluição no rio Paiva e impacto paisagístico geram receios.
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A maior ponte pedonal suspensa do Mundo, que está a ser ultimada em Arouca, deve abrir ainda este mês, mas os ambientalistas temem o impacto do excesso de turismo, sobretudo num rio Paiva cada vez mais ameaçado pela poluição. A obra emblemática, que começou em 2018 e que liga as duas margens do rio, está concluída. Estão a ser feitos testes de segurança.
Chegou a estar prevista para abrir em 2019, mas a empreitada pioneira no país foi sofrendo percalços pelo caminho - o comprimento foi alterado duas vezes e a ponte subiu em altura -, e a inauguração foi adiada várias vezes. Chama-se "516 Arouca", porque tem 516 metros de comprimento e vai sobrevoar a Garganta do Paiva, entre Canelas, junto aos afamados Passadiços, e Alvarenga, a 175 metros de altura. "Que a obra é emblemática e vai projetar Arouca não há dúvidas, mas como defensores do rio Paiva temos algumas reservas", aponta Sérgio Caetano, da associação SOS Rio Paiva.
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O ambientalista aponta que o "excesso de turistas é uma preocupação" e espera que o acesso à nova atração se faça com "um controlo grande do número de visitantes". A Autarquia ainda não confirmou, mas prevê-se que a ponte vá receber apenas 30 pessoas em simultâneo, embora a estrutura esteja preparada para suportar 2500 visitantes.
Segundo Caetano, "há problemas graves, que não merecem a mesma atenção nem o mesmo investimento". "Debaixo da ponte, continua a correr muita poluição que chega dos municípios a montante. E 2020 foi um ano negro, dos piores que me lembro, com grandes descargas com origem em Castro Daire". O título de um dos mais limpos rios da Europa, diz o ativista, está ameaçado. "O Paiva estava bem conservado precisamente por estar isolado, sem grande intervenção humana. Com a construção dos passadiços, isso mudou. Uma zona praticamente inacessível de repente passou a ser frequentada por milhares de pessoas". Agora, a preocupação "não é só a ponte em si, é tudo o que está a aparecer em torno disso: construções nas margens, empreendimentos turísticos, bares, e quanto mais pessoas, maior é o impacto".
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Impacto paisagístico
Os dois pilares em cimento que sustentam a ponte também motivam críticas. "Para quem conhece o Paiva há muitos anos, o primeiro impacto é de choque. O impacto paisagístico é grande. Mesmo as pessoas que procuram turismo de natureza, acho que vão ficar chocadas com aquela estrutura metálica e em betão", diz Sérgio Caetano. Tratando-se de uma área protegida, a associação defende mais rigor. "Estamos a fazer tudo ao contrário. Primeiro, deve-se preservar o rio, eliminar focos de poluição e só depois atrair turistas. Aqui, primeiro atraímos turistas e só depois vamos olhar para o rio".
A SOS Rio Paiva ressalva que o município "tem mostrado bastante preocupação com a poluição" e aponta o dedo ao Governo: "Devia tomar a iniciativa de promover medidas de conservação, é um dever do Estado, isto é Rede Natura 2000, área protegida europeia". Os alertas para o Ministério do Ambiente e para o ICNF são muitos. "Mas quase nunca temos resposta", conclui.
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Poluição
Devido à poluição e à presença de salmonela no rio, o Município de Arouca perdeu a única praia classificada como praia fluvial este ano. Em Castro Daire, onde as descargas terão origem, há uma nova ETAR, que custou 6,7 milhões de euros, que ainda não entrou em funcionamento.
Investimento
Inicialmente estimada em 1,8 milhões de euros, a complexidade da obra que recorreu a alpinistas, a primeira do género no país, fez o investimento chegar aos 2,1 milhões.
Envolvente
A inauguração da ponte vai acontecer ainda antes da conclusão dos trabalhos na área envolvente, que incluem a criação de um passadiço de ligação a Alvarenga ao longo do rio.
35,5 metros é a altura dos dois pilares, um em cada margem do Paiva, que estão a sustentar a ponte. São uma espécie de miradouro que antecipam a emoção de atravessar.
175 metros de altura e 516 de comprimento. A ponte é composta por 127 tabuleiros de gradil metálico, que se assemelham a uma cápsula para transmitir mais segurança.