Fonoteca Municipal de Vinil inaugura em setembro, com programa regular e escutas orientadas.
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Tudo aquilo que não é possível encontrar no Spotify estará disponível, a partir de setembro, na Fonoteca Municipal de Vinil, no Porto. Anunciado há dois anos, e agora concluído, este projeto musical de acesso público integra mais de 35 mil discos e contemplará uma programação regular que inclui escutas orientadas, podcasts temáticos, projeto educativo para escolas e concertos curados por músicos que previamente queiram explorar aquele património musical, cuja fita do tempo começa no período pré-25 de Abril, o tempo dos temas rasurados.
A ideia de transformar um depósito morto e fechado num património acessível e com vida partiu de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto e vereador da Cultura, que quis tornar público o acervo do arquivo sonoro municipal, que nos últimos anos beneficiou de duas doações da Radiodifusão Portuguesa e da Rádio Renascença. "Mais do que uma biblioteca sonora, de catalogação e restauro, a Fonoteca é um projeto de incentivo à criação artística", explicou ao JN.
Perante a extensa coleção radiofónica, o autarca lançou dois desafios aos estúdios de gravação Arda Recorders, sediados na zona oriental da cidade: que a Fonoteca integrasse a Plataforma Campanhã, "um dos maiores complexos da Europa dedicados às indústrias da música e do audiovisual" [Ler caixa], e que a Arda assumisse, em parceria com a empresa municipal Ágora, não só o restauro e catalogação dos discos, mas também a produção de um discurso programático a partir daquele acervo.
"É um projeto de uma grande riqueza", reconhece João Brandão, da Arda, depois de ter passado os últimos anos a "ouvir, limpar, restaurar, catalogar (por época, editora, compositor, país e género) e a fotografar a capa dos vinis" para escuta e memória futura.
Trata-se de "uma coleção que integra música popular portuguesa; música internacional de todos os géneros, da erudita à eletrónica, pop-rock, música etnográfica e música das ex-colónias", enuncia, de forma não exaustiva, Guilherme Blanc, diretor de Cinema e Arte Contemporânea da Ágora, ressalvando que só um terço do espólio está organizado, e portanto deixando a porta aberta a outras descobertas.
"Mais do que pela música comercial, o acervo destaca-se por um conjunto de peças raras e preciosas", torna Brandão. Dá um exemplo: uma gravação de 1963 de um rancho folclórico de Trás-os-Montes. E um outro, ainda mais improvável: registos dos auxílios às emissões radiofónicas, como aplausos e risos, num tempo em que os computadores ainda não simulavam esses recursos sonoros.
A Fonoteca disponibiliza três pontos de escuta de acesso livre, sendo que todo o conteúdo será vertido num website a lançar também em setembro.