A investigadora Salomé Pinho, da Universidade do Porto, faz parte da equipa que recebeu do Conselho Europeu de Investigação, nesta terça-feira, uma bolsa no valor de 10 milhões de euros para desenvolver um projeto na área das doenças autoimunes. O estudo vai ser feito ao longo de seis anos e tem como objetivo principal encontrar uma estratégia terapêutica que permita atuar preventivamente.
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Natural de Santa Maria da Feira, Salomé Pinho tem 43 anos e desenvolve a sua atividade no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto. Neste projeto financiado pela União Europeia, irá trabalhar com dois cientistas do Centro Médico Universitário de Leiden (Países Baixos) e um outro da empresa Genos e da Universidade de Zagreb (Croácia).
Em declarações ao JN, a investigadora referiu que "o grande objetivo é tentar decifrar a causa para a perda de tolerância imunológica" do organismo e encontrar "uma nova estratégia terapêutica para impedir o aparecimento das doenças autoimunes", que, sublinha, "têm uma incidência muito grande em jovens e têm vindo a aumentar". Trata-se de patologias crónicas e debilitantes, que podem ser fatais. Entre elas estão, por exemplo, a artrite reumatoide, a doença inflamatória intestinal e o lúpus eritematoso sistémico.
A investigação irá focar-se nas modificações dos glicanos (açúcares) dos linfócitos B, tendo por base evidências dessas alterações em pacientes que sofrem de artrite reumatoide. "Durante muitos anos, os glicanos eram considerados como decorações doces das células", refere, explicando que, afinal, a comunidade científica concluiu que "regulam a função da célula e o desencadear de uma doença autoimune".
Compreender porquê, como e quando tais modificações funcionam como "interruptores-mestre" da atividade anormal das células B, resultando na perda de tolerância imunológica e no desenvolvimento da doença autoimune, é o grande desafio do projeto. A partir da resposta a essas três questões, pretende-se chegar a um medicamento que possa impedir o aparecimento de tais patologias. Por isso, Salomé Pinho refere que o projeto "vai desde a molécula ao doente".
A cientista lembra que a bolsa em causa - ERC Synergy Grant, na designação inglesa - é atribuída a "projetos altamente competitivos", pelo que considera "bastante gratificante" estar incluída no restrito leque de portugueses que já a obtiveram. Antes de Salomé Pinho, mereceram igual financiamento equipas europeias que incluem os investigadores Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (organismo com sede na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), em 2018, e Cristina Brito, do Centro de Humanidades (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), em 2020.
Doutorada pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Porto), Salomé Pinho desenvolveu investigação no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto e na Boston Medical School, nos EUA. Além de professora universitária, atualmente lidera um grupo de investigadores do i3S.