"A pescaria correu bem, o dinheiro é que é uma miséria!", atira Joaquim Gomes. Depois de cinco meses parado, o regresso ao mar do "Belo Horizonte", acabou na lota de Matosinhos com "um balde de água fria": a sardinha não tinha tamanho. O limite de 140 cabazes passou para 27. Contas feitas, pouco mais de 400 euros para pagar gasóleo e distribuir por sete e "muito peixe para o lixo". No primeiro dia da época da sardinha, houve fartura, mas de sardinha magra e pequena. O preço não passou dos 80 cêntimos o quilo.
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"É magra e curta, mas há muita sardinha no mar", conta Francisco Gonçalves. O "Jesus Valei-nos" partiu para o mar à 1 hora. Às 7 horas estava de volta. Trouxe "a conta". Francisco Gonçalves lamenta que, em dezembro, quando havia sardinha e biqueirão tenham sido "obrigados" a parar (faltava mercado para a sardinha, o biqueirão era muito pequeno). Agora "não há biqueirão e a sardinha é magra". "Este mês é sempre assim. Depois, em junho, vêm os santos populares, melhora a sardinha e o preço", afirma, mantendo o otimismo, num ano em que a quota nacional será a maior dos últimos 12 anos (37 642 toneladas) e se espera que haja faina "até ao fim do ano".
Abundância positiva
"A sardinha ainda é pequena, mas todos os barcos viram muito peixe e isso é muito positivo", realça Agostinho Mata.
O presidente da Propeixe - Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 24 barcos da pesca do cerco a trabalhar em Matosinhos e Peniche, admite que, para muitos, a chegada ao porto foi "uma desilusão": dos mais de 20 barcos que, hoje, chegaram a Matosinhos "só cinco ou seis barcos é que conseguiram apanhar sardinha um bocadinho maior e puderam descarregar os 140 cabazes [para barcos dos 9 aos 16 metros]. Os outros só puderam vender 27". É que, explica, quando a sardinha é muito pequena - abaixo de 35 sardinhas num quilo - é considerada "petinga" (T4) e, a fim de proteger os juvenis, os limites de captura diminuem.
O governo prevê a possibilidade de fechar a pesca, caso, durante três dias, cheguem à lota mais de 30% de sardinha abaixo dos 13 centímetros, mas, por agora, Agostinho Mata descarta essa possibilidade: "Ainda é muito cedo para medidas. Foi só o primeiro dia".
Com o tamanho pequeno, o preço andou entre os 16 e 18 euros por cabaz (22,5 quilos), ou seja, 71 a 80 cêntimos.
Joaquim Gomes leva 35 anos de mar. Lamenta o estado a que chegou a pesca. "Cinco meses a receber 300 euros de subsídio social" e, depois, idas ao mar que "mal dão para pagar as contas". A João Matias, do "Mestre da Galileia", vale-lhe a alegria do tão esperado regresso ao mar, a azáfama do porto cheio de barcos, a correria dos empilhadores, o cheiro a peixe acabado de pescar. A sardinha "já dá para matar saudades" e, agora, "é esperar por melhores dias".