Antigo agente da PSP recriou sala que os pais cederam ao Estado em Sanceriz, Bragança, e onde concluiu a quarta classe.
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Elísio Morais, antigo agente da PSP, agora com 74 anos, todos os dias se senta nos bancos da escola primária onde concluiu a quarta classe. Esse tempo da infância marcou-o tanto que recriou a antiga sala de aulas no espaço onde funcionava nessa altura, quando era criança, e que, curiosamente, era e é a sua casa na aldeia de Sanceriz, em Bragança.
A casa era dos pais, mas Elísio herdou-a e decidiu que o espaço da sala de jantar também seria uma espécie de museu da memória do ensino primário na localidade, que ali funcionou algumas décadas. "A sala está tal como era, com o mesmo teto, soalho, paredes e a porta. Consegui arranjar o antigo quadro e artigos dessa altura, como os mapas de Portugal, as figuras geométricas, a balança e o antigo dicionário. A freguesia cedeu-me as carteiras que estavam no edifício da escola construído mais tarde e que encerrou há alguns anos por falta de alunos", diz.
Conserva as fotografias das três professoras com quem aprendeu a ler e a escrever, e lembra, sobretudo, a dona Antoninha que ali lecionou uns 30 anos. "O melhor de tudo são as memórias desse tempo. Diz-me muito este pedacinho da casa", admite Elísio.
A mulher, Florinda Morais, 77 anos, apoia este museu que lhe rouba uns metros de área habitacional e que é visitado por muita gente. "Vêm os antigos alunos, trazem os filhos e os netos", informa.
Doze escudos por ano
Há 60 anos a escola primária, que servia as aldeias de Frieira, Sanceriz e Macedo do Mato funcionava na sala da casa dos pais de Elísio, onde nasceu e cresceu. "Eles arrendavam a sala ao Estado por 12 escudos ao ano e as aulas de todas as classes eram dadas aqui. O espaço tinha que chegar para 50 alunos", recorda o ex-agente da PSP que fez carreira em Lisboa, onde viveu mais de 30 anos.
Viver na casa, que também era uma escola, só podia resultar em grande animação. "Era uma alegria. Tantas crianças a correr e a brincar. Tenho saudades desse tempo", confessa Elísio, recordando que, mesmo vivendo na escola, às vezes atrasava-se para as aulas. " O meu quarto era em frente à sala e os meus colegas iam acordar-me", recorda.
Conserva primeiro vencimento
Elísio Morais é um colecionador nato. Além de ter mais de 300 chávenas e um conjunto enorme de porta-chaves de e artefactos da lavoura, ainda conserva o dinheiro do primeiro ordenado que ganhou, quando ingressou o serviço militar obrigatório. "Assentei praça na cidade da Guarda. O primeiro "pré" [vencimento] que recebi foi a quantia de três escudos em moedas, nunca os gastei e ainda os tenho", conta. As moedas têm funcionado na vida do antigo agente da PSP como uma espécie de amuleto. "Deram-me sorte. Na altura, três escudos dariam para pagar dois ou três almoços", explica.