Com as fábricas da Petrogal a trabalhar a todo o gás, a refinaria de Matosinhos pode encerrar ainda mais cedo do que o previsto pelos trabalhadores. Se o ritmo de produção continuar "a níveis muito acima da média", as portas podem mesmo fechar já em abril ou maio.
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"Pelo que vemos, o objetivo é esgotar o stock de produtos o mais rapidamente possível", observa Telmo Silva, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energias e Atividades do Ambiente (Site-Norte) e funcionário da refinaria de Leça da Palmeira.
A Galp decidiu encerrar a Petrogal a 18 de dezembro. As reuniões com os trabalhadores e sindicatos começaram esta semana (um mês depois). Mas o quadro de soluções apresentado, afirmam os trabalhadores, é "muito vago" e não tem qualquer "perspetiva de futuro". "Saímos da reunião com uma mão cheia de nada", assegurou Telmo Silva, referindo-se ao encontro como um simples "cumprimento de calendário". Questionada pelo JN, a Galp não quis comentar as críticas feitas pelos trabalhadores.
As alternativas apresentadas aos funcionários passam pela mobilidade interna e pela requalificação através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), não se sabendo quantos poderão ser abrangidos por cada uma das opções. No entanto, a requalificação não será uma alternativa viável, explicou Telmo Silva.
"Trata-se de adquirir novas valências para dar entrada noutro tipo de mercado de trabalho. Não é isso que se pretende", esclarece.
Dos 401 trabalhadores afetos à refinaria, apenas 70 deverão assumir funções no parque logístico em que se transformará, para já, a unidade. Inicialmente, a Galp anunciou que seriam 60.
"O nosso objetivo era que a empresa assegurasse todos os postos de trabalho, mas já percebemos que, efetivamente, haverá despedimentos. Estão a atirar as pessoas para o desemprego", lamenta Telmo Silva, salientando que, na reunião, não foi ainda definida uma data concreta para o encerramento total da Petrogal.
Viabilidade económica
A possibilidade de reconversão da refinaria para biocombustíveis foi alvo de estudo, revelou Telmo Silva, mas a empresa considera que perdeu "viabilidade económica". "Portanto, encerra-se", criticou o sindicalista. "A justificação da falta de procura é um subterfúgio. Os aviões, os navios e os carros a combustão continuam a ser utilizados", observa.
Avançar com uma paralisação foi algo que já passou pela cabeça dos trabalhadores, no entanto, "fazendo isso, nunca mais voltam a ligar as máquinas e mandam o que faltar refinar para Sines", justifica Telmo, referindo que, em 2019, houve intenção de avançar com greves. "O Governo invocou o interesse nacional e não permitiu", recordou.
Processo
Decisão tomada
A Galp já assegurou que o encerramento é uma decisão "fechada". A administração, quando tomou a decisão a 18 de dezembro, informou o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, através de um "telefonema de cortesia".
Refinaria de lítio
O JN sabe que a reconversão da Petrogal para uma refinaria de lítio é uma hipótese que vem sendo trabalhada há vários meses, em negociações que têm contado com o aval de Matos Fernandes, e do secretário de Estado da Energia, João Galamba. O jornal Eco noticiou mesmo que já havia acordo com a empresa sueca Northvolt, o que viria a ser negado pela Galp.
ETAR perto
Matos Fernandes afirmou que instalar uma refinaria de lítio "obriga a uma grande estação de águas residuais, para que o leque poluente da atividade de refinação seja tratada". Em frente à Petrogal, existe uma ETAR.
Pormenores
200 milhões de euros
Segundo a Galp, o valor dos ativos que vão ser descontinuados é de 200 milhões de euros. Além da refinação de petróleo, estão instaladas na Petrogal fábricas de óleos base, de lubrificantes e de aromáticos.
110 mil barris/dia
Em atividade há cerca de 50 anos, a refinaria tem capacidade para produzir 110 mil barris/dia, o que representa cerca de um terço da capacidade de refinação da Galp no país. Sines produz o dobro (220).