Uma mulher de nacionalidade colombiana conseguiu, ontem, ao início da madrugada, salvar duas filhas das chamas que destruíram uma das seis habitações da Casa de Santa Isabel, em Seia, que acolhe utentes com deficiência. Mas morreu ao resgatar a terceira.
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Mãe e filha morreram, na madrugada de ontem, num incêndio que destruiu por completo uma residência da Casa de Santa Isabel, em São Romão (Seia). Depois de salvar outras duas filhas (Manuela e Eva, de dez e quatro anos), Maria, de 41 anos, uma colaboradora colombiana que trabalhava há mais de uma década na instituição que cuida de pessoas com necessidades especiais, não conseguiu resgatar Madalena, de oito anos, do edifício em chamas.
Os corpos, totalmente carbonizados, foram encontrados na zona da escada para o piso superior. "Ela ainda terá conseguido subir ao quarto onde estava a filha, mas, provavelmente, a estrutura desabou na altura em que estariam a descer", adiantou Serafim Barata.
O incêndio terá deflagrado cerca das 1.30 horas e os bombeiros de São Romão pouco puderam fazer quando chegaram ao local. "Já nem foi possível entrar para salvar as pessoas que estavam na casa, pois o edifício, totalmente em madeira, ardia com grande intensidade. Limitámo-nos a evitar que as chamas alastrassem à floresta envolvente", disse o comandante, admitindo, contudo, um "ligeiro atraso" na actuação, uma vez que os voluntários foram inicialmente accionados para um incêndio florestal. O sinistro mobilizou 56 homens e 13 viaturas de seis corporações dos concelhos de Seia e Gouveia.
Maria e as suas três filhas eram uma "família normal" que residia na Casa de Santa Isabel, mas perderam o pai no ano passado, vítima de doença prolongada. "As crianças nasceram aqui", recordou Carlos Páscoa, visivelmente emocionado. "Estamos em estado de choque com esta tragédia", confessou o presidente da direcção da instituição, onde "nunca tinha acontecido nada do género". O responsável diz não ter explicação para o sucedido, até porque, há cerca de um mês, houve obras para melhorar a segurança do edifício. "Os trabalhos foram feitos com o apoio da Segurança Social e consistiram na mudança da estrutura da cobertura e na substituição da parte eléctrica", revelou. Na altura do sinistro estavam dez pessoas na casa - e oito conseguiram salvar-se sem ferimentos. "Como é fim-de-semana, havia menos gente, porque alguns utentes estão com a família", acrescentou.
Carlos Páscoa afirma que "o importante agora é remover os destroços e tentar a reconstrução da residência para reerguer também psicologicamente a instituição". De resto, o presidente da Casa de Santa Isabel sublinha que os serviços da Segurança Social, da Câmara de Seia e até gente ligada ao Governo já contactou a Casa para disponibilizar ajuda. "Foi uma reacção muito positiva de que não estávamos à espera", admitiu. A origem do incêndio pode estar num curto-circuito. A Polícia Judiciária está a investigar.
"Estou a sofrer muito com o que aconteceu. Trabalho aqui há 28 anos. Esta é a minha segunda família, testemunhou Hermínia.
* COM TERESA CARDOSO