Sává colecionou aparelhos de rádio de todo o Mundo e agora vai ter um museu em Valença
O espólio de um antigo colecionador de aparelhos de radiofonia vai dar origem a Museu da Rádio, em Valença. A coleção com perto de meio milhar de rádio antigos, dos anos 30 aos 60, e provenientes de todo o Mundo, deixada por Sansão Vaz, deverá ser exposta na histórica Casa das Varandas, no interior da Fortaleza.
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Uma parte do legado do antigo eletricista, de alcunha Sává [Sa de Sansão e Va de Vaz], que começou a colecionar rádios, porque, além de trabalhar numa fábrica, também reparava aparelhos em casa para ganhar “dinheiro extra” para poder criar as quatro filhas, já está exposta ao público numa das salas do Arquivo Municipal de Valença, também no interior das muralhas.
Entre os 134 exemplares expostos, de um total de 483 que vão para o futuro museu, contam-se três rádios nazis, conhecidos por rádios “mordaça” ou “receptores do povo”, que, nos anos 30, emitiam propaganda do regime nazista. Ali estão reunidas “relíquias” provenientes da Holanda, Alemanha, Canadá, aos Estados Unidos da América, Japão, Brasil e França. E também um rádio da Emissora Nacional, o único português.
“Este é o núcleo museológico mais visitado em Valença. Basta abrir portas para termos a casa cheia”, refere a museóloga da câmara de Valença, Isilda Salvador, comentando que os rádios antigos da coleção de Sává, despertam a curiosidade de “jovens e menos jovens”. Porque “são objetos que são por si um contentor de informação que não existe. Hoje em dia, qualquer telemóvel tem sintonização rádio, mas ver estes rádios ao vivo tem um encanto incrível. Portanto, é uma exposição que atrai imediatamente”, considera.
A museóloga adianta que está programada a criação de um espaço museológico, para albergar toda a coleção deixada por Sává e que está à guarda da câmara de Valença, e que poderá incluir “um estúdio de rádio e serviços educativos”. “O edifício selecionado foi a Casa das Varandas, junto ao tribunal, um edifício emblemático e muito bonito”, indica, referindo que, de momento, decorre “uma intervenção geral na cobertura e exterior do imóvel” e “ainda está a ser feito o desenho do projeto museológico”.
Por enquanto, os rádios de válvulas, botões cromados e em caixas de madeira, vão encantando visitantes.
“Há dois anos no verão, visitou esta exposição o diretor do Museu da Rádio de Londres, que ficou encantado, comprou o catálogo porque está em português e em inglês, e ficou maravilhado com os exemplares ingleses que aqui estão. Disse que temos mais nós aqui, só nesta sala [na exposição no Arquivo Municipal], do que ele tem no museu londrino”, conclui a museóloga municipal de Valença.
Uma das filhas de Sansão, Rosa Vaz, refere que colecionar rádios foi uma “paixão” do pai, que ganhou força quando entrou na reforma.
“O meu pai tirou o curso de eletricista por correspondência e trabalhava numa fábrica em Valença, a “Pinta Amarela”, que pertencia a espanhóis. E, para poder criar as filhas, começou a reparar rádios em casa. Depois, quando se reformou, entusiasmou-se com um senhor que lhe levava aparelhos para arranjar e começou a comprar, a comprar, comprar…”, conta Rosa, recordando que aquilo que “no início não era uma coleção” acabou por se tornar o “precioso” legado de Sává que encanta visitantes e conta muito da História da rádio.
“O museu era um gosto que o meu pai teria, porque gostava que as pessoas tivessem conhecimento, especialmente a gente nova, que não faz ideia de como é que isto funcionava”, conclui Rosa.
A reabilitação do edifício vai ser feita de forma faseada. Por agora está a decorrer uma intervenção geral na cobertura e exterior do imóvel, que data do século XVI.