Perante a preocupação dos moradores de Noêda, em Campanhã, no Porto, sobre as "possíveis consequências" do alargamento da ferrovia naquela zona para receber o TGV, a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, propôs à Câmara, esta segunda-feira, estudar-se uma alternativa que permita preservar a zona. Foi recusada.
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Os moradores de Noêda "começam a preocupar-se", avisou, esta segunda-feira, a vereadora da CDU, perante "as possíveis consequências daquilo que foi apresentado". llda Figueiredo levou à reunião de Executivo desta segunda-feira uma proposta de recomendação com dois objetivos: "dar conhecimento destas preocupações" (considerando que Noêda "é dos poucos sítios" onde ainda existe ruralidade urbana "e que vale a pena preservar pelas suas características muito peculiares"), bem como propor a criação de um centro de estudos de ruralidades urbanas.
A proposta foi rejeitada com os votos contra do grupo independente de Rui Moreira e do PSD. O Bloco de Esquerda absteve-se. PS e CDU votaram a favor.
Moreira garante que TGV permite manutenção das hortas
Em causa está o alargamento do caminho de ferro para o lado da VCI, fruto das obras para receber a linha de alta velocidade entre o Porto e Lisboa. A empreitada será da responsabilidade da Infraestruturas de Portugal (IP). A maquete que exemplifica a mudança que o TGV provocará em Campanhã está exposta no átrio dos Paços do Concelho.
Para a vereadora da CDU, esta seria também uma oportunidade de a cidade assumir "uma atividade pioneira através destes seus núcleos". "Este é um deles. Há outros deste género aqui no Porto, mas este é um dos mais importantes", afirma.
Em resposta, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira começou por referir que o Plano de Urbanização de Campanhã (PUC), em elaboração, mantém todos os elementos que caracterizam aquela zona: as ruínas castrejas, escola, lavadouros, núcleo agrícola, minas, poços e muros de pedra, entre outros.
O autarca acrescenta que "as hortas vão manter-se e vai ser requalificada toda a área envolvente, estando prevista uma área verde, de característica lúdico-produtivas, onde as horas existentes são valorizadas e reforçadas, contribuindo para a melhoria paisagística da frente verde prevista entre a VCI e a nova via de ligação à estação de Campanhã".
"Quanto à moagem de Ceres", continua Rui Moreira, muitas instalações industriais entre o século XIX e XX "romperam com as características rurais desta zona". Certo é que, "a maioria destas indústrias já não existe, dada a perda de importância do setor industrial ao longo da década de 80 do século XX, subsistindo a moagem Ceres".
De qualquer forma, o presidente da Câmara do Porto explica que "a moagem de Ceres vai ter de ser deslocada", já que "este tipo de indústria implica grandes movimentos de pesados pela frágil estrutura urbana existente, não sendo compatível com o preconizado para a zona". Aquela área dará lugar à entrada da nova estação de alta velocidade, destinada principalmente a serviços, mas podendo também comportar habitação, pode ler-se na declaração de voto entregue pelo presidente da Câmara do Porto.
No que diz respeito à nova Rua do Freixo, também apresentada no projeto para o TGV, Rui Moreira recorda que essa artéria "estava já proposta no Plano Diretor Municipal (PDM) de 2006", tendo-se mantido no plano atual, em vigor de 2021.
Ainda assim, a construção deste novo arruamento também preocupa a CDU, já que "terá de ser transportado um volume enorme de terra para solidificar o arruamento". Moreira responde que "a via proposta tem as características de um arruamento urbano convencional, servindo de suporte a uma nova frente urbana que colmata a malha urbana existente a poente".
"Noêda não tem futuro"
De qualquer modo, adianta Rui Moreira, "a Noêda não tem futuro". "Está encravada entre a VCI, a linha de caminho de ferro e a Rua do Freixo, com acessos muito precários e sem qualquer qualidade urbana. Preservar a Noêda tal como se encontra é sustentar o 'urbanismo dos pobrezinhos', que pode ser muito característico, mas que não garante as necessárias infraestruturas urbanas", diz o autarca, que rejeitou a proposta, tal como todos os seus vereadores.
O vereador do Bloco de Esquerda, Pedro Figueiredo, que se absteve, aproveitou a proporta para falar numa "destruição de património a ocidente da Rua do Freixo", em particular "na zona do Agra, na zona da central do Freixo e na quinta da China". Para o vereador, aquela zona está "sob intenso ataque imobiliário também pelas mãos da Câmara", justificando essa afirmação com a demolição "incompreensível" do lavadouro do Agra ao abrigo do programa municipal Rua Direita.
Já Rosário Gambôa, do PS, que votou favoravelmente a proposta, considera que "o texto resolutivo é absolutamente amplo que pede que se estudem alternativas sem impor uma visão única". Para a vereadora, a proposta de criação de um centro de estudos de ruralidades urbanas "tem muita pertinência".
Por sua vez, Alberto Machado, do PSD, recorda que "ao longo de muitos anos, todos os partidos políticos aqui representados foram olhando para Campanhã e apontando sempre um problema de abandono e de falta de investimento numa freguesia que estava atrasada em relação ao resto da cidade". O vereador relembra ainda que "as freguesias mais periféricas também tiveram fenómenos de evolução com dor", dando o exemplo de Paranhos, com a construção do polo da Asprela e da VCI e de Ramalde, "em várias zonas, que vieram transformar a cidade".
Contudo, o vereador diz olhar para a proposta de recomendação "percebendo que o tempo dos estudos está a concluir-se e o TGV é algo absolutamente fundamental para o país, não podendo deixar que se perpetuem estudos e passem os prazos, ficando com a ponte no meio do rio". O PSD votou contra a proposta.
A CDU reitera que não coloca em causa a construção do TGV.