O Hospital de S. João, no Porto, onde todos os dias chegam pessoas que não falam português nem sequer inglês, eliminou a barreira linguística. Dispõe agora de um tradutor eletrónico que permite a comunicação entre médicos e pacientes.
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Entre os doentes estrangeiros que todos os dias vão à Urgência de adultos do Hospital de S. João, há uma parte considerável que não fala português, nem sequer inglês, o que causa entraves tanto no diagnóstico como no tratamento. Esse problema, agora, pertence ao passado. Vários serviços do hospital já dispõem de um tradutor eletrónico que permite comunicar em dezenas de línguas e de forma instantânea.
A barreira entre médico e doente é quebrada por um dispositivo parecido com um telemóvel e de muito fácil utilização. Ao falar para o aparelho, o profissional de saúde faz a pergunta em português e a tradução para a língua materna do paciente ouve-se de imediato e aparece escrita no ecrã. Depois, a sua resposta é traduzida para português. E por aí fora.
O crescente número de turistas e de imigrantes na cidade agravou o problema da comunicação. Para se ter uma ideia, a média diária de estrangeiros atendidos na Urgência de adultos do S. João ronda os 35 e, desses, só metade pertence ao universo da lusofonia.
E qual era a solução? "Tínhamos de recorrer com frequência a profissionais que, na casa, falassem algumas línguas diferentes", conta ao JN Cristina Marujo, diretora daquele serviço, para logo acrescentar: "Nós nem sempre tínhamos profissionais disponíveis com essa capacidade".
"Neste momento, temos sempre isto à mão. E, de facto, é uma grande ajuda", refere ainda, sublinhando que o dispositivo "consegue traduzir claramente o que é que se está a passar" com o doente, tornando claras as conversas mais específicas em torno de sintomas, de doenças preexistentes ou de medicação, por exemplo.
O aparelho é uma criação da Vasco Electronics, fundada em 2008. João Fernandes, diretor da empresa em Portugal, destaca a polivalência do Vasco Translator V4 ao quebrar barreiras linguísticas: "Pode chegar aqui uma pessoa que fale qualquer língua e com esta ferramenta não há barreiras, as pessoas entendem-se muito facilmente".
O dispositivo "utiliza dez motores de tradução e inteligência artificial", diz o responsável. O sistema tem por base um servidor instalado na Alemanha e, "em termos de segurança, é tudo encriptado", conclui.
Traduz 76 idiomas por voz e 108 em texto, escrito ou fotografado, com uma precisão que ronda os 96%. Dispõe de um cartão SIM com Internet gratuita para usar em quase 200 países e permite, ainda, guardar e partilhar as traduções.
O S. João é o primeiro hospital do Porto a usar o Vasco Translator V4, disponível na Urgência de adultos, na Urgência de obstetrícia e nas consultas externas. Segundo João Fernandes, entre os grandes clientes estão ainda forças de segurança, empresas de hotelaria/turismo, indústrias e escolas. Mas qualquer pessoa pode comprar o aparelho.
A empresa tem sede na Polónia. Além de ser um apaixonado por viagens e pelos cuidados médicos, o fundador, Maciej Góralski, nutre um carinho especial pelo nosso país e isso refletiu-se no nome que deu à empresa: é uma homenagem a Vasco da Gama, o navegador que fez a gente lusa dar "novos mundos ao Mundo", como escreveu Camões.