Compadre de João e Leonor lembra o que antecedeu na tragédia no rio Lima, que matou um casal e uma filha. Criança de 10 anos não foi porque o avô disse que era perigoso.
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Três corpos foram resgatados das águas do Lima, em Viana do Castelo, entre as 18.50 horas de segunda-feira e as 17.30 de terça-feira. Todos de uma família de Santa Marta de Portuzelo. Pai e mãe, de 75 e 73 anos, e uma filha, de 44, morreram no rio, após terem saído de barco para recolher lenha numa ínsua. Os cadáveres foram resgatados das águas em menos de 24 horas. Os dois primeiros na segunda-feira, com uma diferença de três horas, e o último, a septuagenária, na terça-feira ao fim da tarde.
Durante o dia ouviram-se na aldeia os sinos a tocar a finados, e nas margens do Lima familiares e amigos choraram o trágico destino do casal João e Leonor Soro, e da sua filha Paula Costa, mãe de um menino de 10 anos, que o avô não deixou que fosse com eles.
"O meu compadre era um apaixonado por rio, mas na segunda-feira não queria ir. A mulher e a filha é que o incentivaram. Até era para ir o miúdo, o neto, que às vezes ia, mas ele disse: "Não vais, porque pode ser perigoso". E olhe o que aconteceu. É o destino", lamentou Severino Amorim, pai de um dos genros de João e Leonor.
O casal tem três filhas. Paula era a do meio. A mais velha é casada com um filho de Severino, que terça-feira olhava o rio emocionado. "Éramos muito amigos. Eram os meus compadres. Nas passagens de ano, jogávamos à sueca até às tantas da "matina". Ele era muito alegre e trabalhador", lembra.
As causas do naufrágio vão ser investigadas, confirmou o comandante da Capitania de Viana do Castelo, Sameiro Matias, que conduziu as operações de busca em terra e na água, envolvendo Polícia Marítima e Bombeiros Sapadores e Voluntários, com equipa de mergulhadores.
Peso da lenha terá sido fatal
A possibilidade da embarcação de madeira, com cerca de sete metros, ter adornado e metido água, face ao peso de toros de madeira recolhidos por João, Leonor e Paula, é a tese defendida, tanto por autoridades no terreno, como pelos mais próximos.
João Soro, ex-emigrante em Andorra, pertence a uma família de pescadores de Santa Marta de Portuzelo e também ele praticava pesca, pelo que seria experiente.
"O meu compadre era um campeão de rio. Sabia nadar bem, mas levava aquelas botas grandes até cá acima. Levava carga a mais e o barco adornou. Lá caiu numa poça funda e aquelas botas não deixam fazer nada. Elas não sabiam nadar, mas ele sim. Não lhe valeu de nada", acredita Severino, acrescentando que, além de "guerreiro" da pesca, João também era "um viciado em lenha". "Só queria lenha. Tinha a casa cheia de lenha. Não precisava disto", lamenta.