Universitários enchem lojas no Porto. Comerciantes ainda a recuperar de prejuízos causados pela pandemia.
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Há um ano a vestir o castanho, cor da camisola de caloiro do curso de Desporto, os alunos Daniel Correia e André Barroso trajaram há dias pela primeira vez. "O preto impõe respeito", considera Daniel. Como eles, uma multidão de estudantes andou num "entra e sai" nos vários pontos de venda espalhados pelo Porto. Com a pandemia, muitas fábricas de trajes fecharam portas, impactando o preço dos materiais. Ainda assim, o aumento é impercetível no preço final para os clientes.
Ao contrário da matéria-prima, que é cada vez mais escassa, a procura pelos trajes académicos continua a crescer. "Nunca vi anos tão prósperos como este e o que passou", afirmou Manuela Oliveira, proprietária da loja académica Praxe. No ano passado, por exemplo, a comerciante teve que recusar alguns pedidos. "Tivemos falta de capas e, por isso, não conseguimos vender nada", diz a proprietária. Este ano, e mesmo com a procura a aumentar, o negócio tem conseguido atender todas as encomendas.
Os trajes estão mais caros, mas o preço final está praticamente igual. "Antes da pandemia, havia produtos nacionais de alta qualidade, mas muitas empresas fecharam portas. Para o ano que vem é que se deve sentir o aumento [dos preços]", assegura Manuela Oliveira.
A Praxe possui uma fábrica em Gaia, onde produz os trajes que vende, bem como cartolas e bengalas.
Clientes não sentem aumento
É habitual os estudantes deixarem a compra do traje para a última hora. Na loja Capas Negras, junto à Praça da República, tanto os clientes como as centenas de bengalas e cartolas evidenciam que a Queima das Fitas está mesmo aí à porta.
Tal como no primeiro estabelecimento, o proprietário Luís Miguel Pereira afirma que está a recuperar da pandemia. "Ainda estamos a cartolar estudantes que ficaram para trás devido à pandemia e, por isso, a procura é mais elevada."Da mesma forma, o comerciante reconhece que a atual crise resultante da guerra na Ucrânia já está a afetar o preço dos materiais, mas "os clientes ainda não consigam percebê-lo no preço final".
Na verdade, foi a rentabilidade que levou a brasileira Lorena Blanco, caloira do curso de Design e Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, até à loja de trajes. "No Brasil, isto não existe. Mas conheci a tradição e gosto bastante", alegou a aluna.
A acompanhar Lorena, esteve a madrinha Francisca Brandão, que decidiu adquirir o traje num sítio diferente. "Eu comprei a uma senhora que encomenda numa fábrica e revende", relatou. No final, a jovem brasileira poupou 70 euros face aos 250 que a madrinha pagou no ano dela. "Considerando o uso e o tempo, não me importo que seja mais barato. A qualidade é idêntica", partilhou Lorena.
Segundo os proprietários das duas lojas que o JN visitou, houve um período em que o negócio estava incerto, mas "mais do que nunca" acreditam que a "tradição vai permanecer por vários anos".